Encontre a paz se puder, e me dê o endereço dela também.

Procura-se:

Calor que aqueça corações em meio ao caos, paz que flamule branca na tormenta, luz que clareie a escuridão da dor, vida que valha à pena ser vivida... Futuro.

Não encontra-se nada além de frio, luta e breu.

Sensações e sentimentos ambíguos, ora calmos e passivos, ora brutos e ativos.

A melhora da morte... moribunda e vegetativa a vida segue, esperando a recompensa de um céu azul e tranquilo, de um sol ardente e radiante... radioativo.

Um champignon gigante pra fazer estrogonoff de gente flambado com um conhaque barato comprado em qualquer esquina onde se compra de tudo, até pessoas por uma foda de meia hora.

Paz e calma idealizadas como o amor que não existe...

O que se vê e se sente é subjetivo, cada um enxerga o que é belo aos seus próprios olhos, faz o que é aprazível a si mesmo, e trata a vida como objeto de decoração.

Um bibelô numa estante esquecida no meio da sala do mundo, cheia de teia de aranha e pó. Suja como o leito que corta o caldeirão do inferno... Podre e em decomposição.

Vida. Acabam com ela aos poucos com o sadismo de um carrasco medieval, que se encapuzando acredita que se liberta do crime e que vendando a vítima acha que ela não o vê... Ela o vê sim, o vê com a alma que morre antes do corpo decaptado...

Perde-se a cabeça por vários motivos, ela nem precisa ser arrancada do pescoço com um golpe, a cabeça está, mas o cérebro não.

Não se pensa nas consequencias dos atos, não se sente a dor alheia, então é fácil olhar apenas o próprio umbigo.

Homens pensam com a cabeça menor e mulheres pensam com essa cabeça do homem também.

A moral e os bons costumes que se fodam no inferno criado pelos humanos para diminuir a culpa que carregam sobre os ombros largos. Quanta hipocrisia, quanta ignorância, quanta mentira... Os príncipes são pobres e bêbados no conto de fadas do caldeirão do inferno, e as donzelas não têm mais de doze anos, quando chegam aos doze anos donzelas ainda.

Crianças cobram vinte reais para chupar um pirulito sujo e chupado várias vezes antes e os porcos imundos as pagam os vinte reais e ainda batem nas suas caras com os punhos fechados, fazendo escorrer a vida delas face abaixo misturada às lágrimas de dor...

Os vinte reais vão pagar o remédio às vezes cheirado, outras colocado num cachimbo improvisado, na melhor das hipóteses enrolado num papel de seda e queimado, indo direto pro cérebro que não vai servir de nada um dia...

E ainda assim existem pessoas que acreditam num futuro melhor... O futuro está condenado e não tem futuro.

* Caldeirão do Inferno é o nome dado por mim à cidade onde vivo.

Isabel Cristina Oller
Enviado por Isabel Cristina Oller em 20/01/2011
Código do texto: T2740801
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