UM TEMPO PARA SER SEM

Um dia acordei chorando e no segundo seguinte já estava vivendo... Achei que era só continuar respirando esse mundo cheio de ar, mas não era só. Tive felicidades incontáveis, mas por maior quer seja a felicidade, um dia triste chega, enfim... Pior que sentir dor, foi perceber que de tão grande, por alguns instantes, fiquei em torpor, indiferente a qualquer sentimento, dor, mágoa ou rancor. Só pensei em respirar. “Respire que tudo passa...”

Sabia que não seria fácil, mas jamais imaginei que fosse tão difícil...

O irônico de tudo isso, é que quanto mais dor se sente, mais queremos diminuir a dor do outro. Talvez porque quando o outro dá um sorriso, a gente perceba que apesar de tudo a gente ainda sorri e ainda acha graça e ainda continua vivo... E apesar de não conseguir sorrir, o outro sorri pela gente... Um sorriso de segunda mão... Sensação de poder fazer graça!

Costumo dizer que se as coisas não estão a contento, é porque a história ainda não acabou... Que história longa essa minha. Insisto em trocar os papéis de parede, mas apesar de diferentes, tudo continua igual... Tudo está mudando... O tempo, as estações do ano, os vizinhos, as cores da moda, as direções das ruas... Mas ainda está tudo igual...

Pinto um sorriso no rosto, mas meus olhos não mentem. Continuam a me encarar, pedindo felicidade já! Nada posso fazer além de entender essa tristeza e dar um tempo para ela se alegrar...

Talvez eu deva mesmo é me sentir triste e chorar até secarem todas as lágrimas, mas quando a tristeza é muito grande, nem se sabe por onde começar a se entristecer. Tenho que sentir a dor para que ela vá embora... Mas não estou pronta para a dor...

Vou me anestesiar um pouco mais... Sem dor, sem alegria, sem infelicidade! Preciso de um tempinho para ser sem... Sem é também sem me mandar a conta no fim do mês e não precisar passar recibo a ninguém...

Talvez um dia a anestesia passe sem que eu perceba e meu sorriso torto, se torne genuíno outra vez...