Aviso ou distração?

Deixei um bilhete preso na geladeira

Daqueles simplezinhos, e amarelo

Um ponto amarelo, num oceano branco

Daquele que avulta-se a vista quando passa rápido

Bem; disse que não demorava, que vinha pra cá

Aqui estou, mas a pensar:

O recado que deixei

Serve de aviso ou distração?

Sabe bem né? Meu marido, ele...

Tem o costume de ver as coisas

E achar que não é com ele

Essa hora mesmo

Deve estar se perguntando onde estou

Se é que notou minha falta,

Já diziam as velhas, todas as vezes que nos viam:

Um homem macerado depois de um dia de trabalho

Só pensa no arroz de hoje

E as patacas que virão amanhã!

E ele no que será que pensa?

O recado deixado realmente o recorda de algo?

Deixei ali o horário correto do remédio

Se fosse como eu, estaria vendo a todo instante

Pra não esquecer do horário e logo

Não precisaria olhar mais,

Mas como o conheço, é bem pelo contrário

Deve estar a todo instante se perguntando

Que viu algo diferente, mas nem sabe ao certo o que

Meu pai também vivia a dizer:

Um homem de dificuldades

Sabe amarrar a talha de forma que nunca solte

Não tenho dúvidas que assim seja

Mas ainda não sei se o aviso serviu como aviso

Ou serviu como distração

Antes não escrevesse, não escrevesse nada!

Porque o aviso que ia botar,

Olhando aqui na bolsa,

Acabei de esquecer.

Márcio Diniz
Enviado por Márcio Diniz em 30/12/2010
Código do texto: T2700930