Última a morrer

Como sussurro, as suas palavras flertam com o coração, assim como o saboroso flerta ao paladar, com incontestável persuasão nos conduz à correnteza, a vereda absoluta, o peito fadado alivia o seu fardo deixando o medo dissipar, nada mais podendo fazer contra nós.

O corpo passa a flutuar após as lições de desejo que nos leva a sonhar, planejando além dos nossos horizontes, e por muitas vezes, além do nosso alcance, como se a lógica repentinamente parecesse um velho rabugento que não se arrisca resguardando o seu presente, levando ao calabouço da reclusão o futuro incerto.

Fica obtuso e cego por não poder ver um palmo a sua frente, por enxergar longe demais, vivendo tempo demais nas nuvens perdendo os pés sobre a terra, perdendo a calma, na expectativa ansiosa da mudança gloriosa, aguardando a beleza do perfeito, do imaculado, mesmo a consciência ponderando tudo como um delírio, algo no peito parece crer até padecer, até que então de tão improvável, se dedica a crer no que não se pode ver, como um estado terminal desabrocha em si a fé.

As multidões caminham rumo as vozes do seu flerte, ao destino incerto, um a um, espontaneamente ao labirinto orientadas por seus desejos, seus sonhos particulares, rumo ao seu paraíso, um a um, direto para o abismo sem contabilizar os sacrifícios, sem perceber o presente um palmo dos seus olhos, dos seus semblantes sorridentes, como sonâmbulos não podendo acordar sob hipótese nenhuma dos seus sonhos.

E é assim por todas as eras humanas. Pelo privilégio de ver todos morrerem, um a um, hipnotizados irremediavelmente...

É desta forma que a Esperança é a ultima que morre.