O desagradável hábito de cutucar

Certa vez um amigo meu, que também é colega de trabalho, fez com que eu percebesse que tenho um cacoete ridículo . Enquanto dissertava sobre um assunto cabeça, eu cutuquei o cidadão várias vezes. Ele disse: "não precisa encostar em mim, eu estou prestando atenção". Daí em diante, toda vez que eu cutuco alguém, percebo na hora e disfarço. Algumas vezes chego até a pedir desculpas.

Fiquei intrigado e quis saber de minha namorada se eu fazia o mesmo com ela. Do nada, de surpresa, sem mudar o assunto, perguntei: "eu te cutuco?". Ela me deixou preocupado ao afirmar que chego ao absurdo de largar da mão dela, quando estamos passeando, para cutucá-la!

Quanto já não deve haver de sofrimento acumulado nas pessoas que passaram por minha vida ao calarem-se diante deste meu desagradável hábito? Quais não foram as palavras que vieram à cabeça destas pessoas ao ficarem em silêncio por educação ou até mesmo por medo de contrariar um possível louco?

Dias depois, preocupado ainda, pensei em algumas perguntas sobre coisas que ainda não tive condições de notar:

1. será que quando estou em casa, sozinho, pensando - ou seja, conversando comigo mesmo - eu cutuco os móveis e as paredes?

2. quando sonho que estou papeando com alguém, será que eu cutuco, no sonho? E na cama? Cutuco o travesseiro? E o cobertor? Já imaginaram a cena? Um sujeito dormindo, cutucando freneticamente o cobertor...

3. quando eu tô matutando sobre algum assunto na hora do almoço, eu cutuco o prato? O garfo tenho certeza que não, senão já teria espetado o dedo.

4. se um dia eu me deparar com OVNIs e as criaturas alienígenas se aproximarem para tentar algum contato, vou cutucar os etês?

5. se eu virar médium, durante as sessões de comunicação com o além vou ficar desesperado por não conseguir cutucar o sujeito com quem estou conversando?

Enquanto eu penso nas respostas para estas intrigantes questões, responda você que está lendo: vai um cutuco aí?