ELES SE FORAM...

Eles se foram...

Mesmo não tendo muita certeza sobre algumas coisas da vida, por falta de conhecimento, vou divagando, como a tatear caminhos envolto pela escuridão...

Uma amiga disse-me: Ele se foi... Seu pai agora mora no céu! Ofereci o meu carinho, o meu abraço mais fraterno e mergulhei em um silêncio quase profundo...

Eu e ela, neste sentido, estamos sós...

Comentei ainda que sabia o que ela estava passando, mesmo que em verdade, não saiba não...

Afinal, se os fatos são os mesmos, os sentimentos que despertam são muito pessoais e particulares...

A pessoa que agora lhe falta, diferente da que me faz falta, é fonte de recordações únicas e riquíssimas... E muito particular! Da mesma forma que é o meu paizinho para mim...

Ele se foi, foi também uma frase minha por muito tempo, que minha boca chorosa resmungou por vezes sem par, a quem quisesse ouvir... Até o momento em que eu o descobri dentro de mim...

Olhando fixamente para dentro de meu ser, descobri meu pai impresso em cada fibra de meu ser!

Até seus trejeitos descobri em mim...

E as minhas lembranças e os meus sentimentos então embebidos dele, fazem com que a sua imaterialidade seja mais um atributo de sua presença...

Meu pai esta completo em mim! Inteiro! Sem falhas, sem pedaços, sem máculas...

Meu pai é o tudo e o todo que reside em mim... E como estou vivo, ele ainda vive, o meu pai querido, em todos os meus instantes!

Sei que ela há de preferir pensar assim também, espero que prefira, pois nós somos tão acostumados com a materialidade, com o concreto, que não damos valor á imaterialidade em que um dia nos transformaremos. Todos nós!

Minha mãe um dia me falou uma frase que me pareceu não ter muito sentido quando foi proferida: Esteja comigo, me siga, mas nunca queira imitar-me os passos...

Agora, tanto tempo depois, faz tanto sentido, que me assusta!

Cada um é um ser único, que faz a sua própria caminhada, e a cada passo constrói a própria vida, e nós outros somos coadjuvantes nesta empreitada. Vivemos juntos por algum motivo, que para alguns se constitui em um mistério, enquanto para outros não seja um fato tão misterioso assim... Quanto á mim, prefiro pensar em um aprendizado coletivo!

E tirando falhas de um e de outro, fiquemos com as coisas boas que foram vividas em conjunto, pois nunca será destratando quem nem pode se defender, que seremos mais felizes... E por que temos que dar mais valor ao bem do que ao mal que por ventura vivemos, e por que fazendo assim, quem sabe quando nós faltarmos, sejamos avaliados pelo nosso lado bom!

Ele se foi... Frase curta, mas plena de tantos significados!

Nós ainda aqui estamos, permanecemos por não ter chegado a hora de nossa partida, de abraçarmos a nossa imaterialidade...

Ficamos para completarmos a nossa mortalha, com a qual vamos nos apresentar no além!

Ficamos, pois ainda existe mais um pedaço de estrada para ser por nós trilhada, repleta de felicidades, tristezas, alegrias e mágoas...

Ficamos, por que ainda não completamos nossas tarefas...

Permaneceremos até que a imaterialidade nos absorva e a tenhamos como mais um atributo, qualidade, e com ela nós sejamos mais completos...

Eles se foram...

Estejamos com eles, seguindo-os com os pensamentos e os melhores sentimentos de nossos corações, sem cairmos na tentação de imitar-lhes os últimos passos...

Haverá um tempo no tempo, para um reencontro e para outras despedidas a mais...

Fiquemos por agora, a tecer a nossa mortalha, sob as influências daqueles que já completaram as suas...

Não esmoreçamos os nossos passos; movimento é vida!

Edvaldo Rosa

www.sacpaixao.net

18/11/2010