A tradição do Dia de S. Martinho: comer castanhas e beber o novo vinho



Dia de S. Martinho, manda a tradição que se comam castanhas e que se prove o vinho novo.


Todos os anos no dia 11 de Novembro, celebra-se em Portugal o dia de São Martinho. Neste dia, em quase todo o país, é habitual todas as famílias comerem boas castanhas assadas e prova-se o vinho novo, comemorando assim a chegada definitiva do tempo frio e do Outono.

A geropiga e a água-pé são também as bebidas tradicionais que acompanham as castanhas nesta época de S. Martinho. Estas bebidas, são iguarias de fabrico caseiro das regiões do Minho, Alto Douro e Trás-os-Montes, mas também são excelentes no acompanhamento de frutos secos, como nozes, avelãs ou figos, e mesmo alguns doces tradicionais como filhós, rabanadas, sonhos e bolo rei.
Diz a tradição que, para haver São Martinho é preciso lume, castanhas e vinho, daí o costume dos magustos – festas populares, com grandes fogueiras ao ar livre – onde familiares e amigos se reúnem para, alegremente, festejarem este dia.
Este costume fez das castanhas frutos muito procurados no Outono, havendo atualmente muitas receitas que incluem este ingrediente.
As castanhas são, por isso, consideradas “guloseimas” de época, que, a título de curiosidade, em tempos passados, constituíram um substancioso suplemento alimentar, substituindo, por vezes, o pão quando este escasseava, devido aos rigores do Inverno. Quer sejam assadas, cozidas, na doçaria, ou mesmo transformadas em farinha, as castanhas converteram-se num alimento muito popular.

A lenda do Verão de S. Martinho…

Para quem não conhece, conta a lenda que, Martinho de Tours, (cidade onde foi bispo), nasceu em Panónia, na Hungria, em 316 ou 317. Filho de um oficial romano, que lhe deu uma educação Cristã, fez estudos humanísticos em Pavia. Aos 15 anos, Martinho foi para Itália e alistou-se no exército Romano tornando-se num corajoso general, rico e poderoso. O nome de Martinho foi-lhe dado em homenagem a Marte, o Deus da Guerra e o protetor dos soldados.
Um dia, de regresso a casa, atravessando as montanhas dos Alpes, ia o valente soldado romano, montado no seu cavalo, quando viu um mendigo, velhinho, quase nu, tremendo de frio, encharcado, que lhe estendia a mão suplicante…
Martinho, homem bondoso, comoveu-se e como não tinha esmola para lhe dar, retirou o seu manto vermelho, espesso e quente que o protegia do frio e da chuva dando-lhe um golpe de espada e dividiu em duas partes, estendendo uma delas ao pobre velhinho, agasalhando-o o melhor que pôde.
E, apesar de mal agasalhado e sob chuva intensa, preparava-se para continuar o seu caminho, cheio de felicidade pela boa ação que tinha praticado.
Deus presenteou este gesto fazendo desaparecer a tempestade. Imediatamente o céu ficou limpo e azul e surgiu um sol de verão, cheio de luz e calor. O bom tempo continuou durante três dias, tempo que levou o general a chegar à sua terra Natal.
Por incrível que pareca, todos os anos em novembro, se recebe esta benção com três magníficos dias de sol, para que não se apague da memória dos homens o ato de bondade praticado pelo caridoso soldado. A esse fenômeno se chama, em Portugal, o verão de São Martinho!


PROVÉRBIOS POPULARES (Dia de S. Martinho)

- No dia de S. Martinho vai à adega e prova o teu vinho.
- Mais vale um castanheiro do que um saco com dinheiro.
- Dia de S. Martinho fura o teu pipinho.
- Dia de S. Martinho, lume, castanhas e vinho.
- Pelo S. Martinho, prova o teu vinho, ao cabo de um ano já não te faz dano..
- Água-pé, geropiga, castanhas e vinho, faz-se uma boa festa pelo S. Martinho.


Trovinhas

Como é bom comer
Castanhas assadas
E no magusto ver
As meninas coradas

Na rua está um vendedor
De castanhas assadas
É com esforço e amor
Que faz feliz a rapaziada

Dia de S.Martinho vai chegar
A lareira vou acender
Para as castanhas assar
E contigo as comer.

Que lindo é o Outono!
Que lindo que é!
Uvas e castanhas
Vinho novo e agua pé!

Dia 11 de Novembro
É o dia de S. Martinho
Come-se castanha assada
E mais o caldo verdinho.

É dia de S. Martinho
É a festa das castanhas
Em vez de sol há chuva
É Outono e ninguém estranha.

Informação: Curiosidades sobre a Castanha

A castanha é o fruto do castanheiro-da-europa (Castanea sativa), arvore centenária abundante no norte de Portugal.
A castanha que comemos é, de fato, uma semente que surge no interior de um ouriço (o fruto do castanheiro). Mas, embora seja uma semente, como a noz e a amêndoa, tem muito menos gordura e muito mais amido (um hidrato de carbono), o que lhe dá outras possibilidades de uso na alimentação.
As castanhas têm cerca do dobro da percentagem de amido das batatas. São também ricas em vitaminas C e B6 e uma boa fonte de potássio.

. Existem várias espécies de castanha. Em Portugal a espécie mais comum é a Judia.
. A castanha tem varias aplicações na medicina. As folhas, a casca, as flores e o fruto têm sido utilizados devido às suas propriedades curativas e profiláticas, adstringentes, sedativas, tónicas, vitamínicas, remineralizantes e estomáquicas. Pelo seu valor nutritivo e energético, era utiliza outrora em vários estados de mal-estar e doença. É também tônica, estimulante cerebral e sexual, anti-anêmica (castanha crua) e revitalizante. Para afinar as cordas vocais e curar a faringite e a tosse nada melhor do que gargarejos com infusão de folhas de castanheiro ou de ouriços.

A castanha constitui vasto tema para ditos, lengalengas, canções, quadras e contos populares, sobretudo no Nordeste Transmontano.

. Usa-se o termo muchetar as castanhas, cortar com a faca antes de serem cozidas ou assadas. Por associação, levar um muchete é levar um apertão com os dois primeiros dedos da mão, geralmente dados por rapazes atrevidos às meninas.
. As castanhas assadas, depois de descascadas chamam-se bilhós.
. O tema das castanhas está muito presente na literatura, nomeadamente em Plínio, Virgílio, Camões, Camilo Castelo Branco, Eça de Queiroz, Aquilino Ribeiro, Miguel Torga, Virgílio Ferreira, António Cabral, Vasco Graça Moura, etc.

Marron Glacé

O marron glacé é, tão só, uma castanha caramelizada, impregnada de açúcar, com frágeis equilíbrios na consistência. Um marron glacé é tanto mais rico quanto mais açúcar absorveu.
Para se fazer excelente marron glacé é preciso que as castanhas possuam uma textura especial e o próprio descasque é um processo delicado.
Fazer marron glacé, ao longo dos séculos, começava sempre por um jogo de paciência dos cozinheiros, desde o retirar a “casca” às castanhas, até o marron glacé iniciar o processo de caramelização. Cada amêndoa da castanha tinha que estar sem a mínima beliscadura, que a pudesse diminuir no seu mágico aspecto.

. Na época romântica os galanteadores, seduziam as caprichosas damas, nos saraus e salões, servindo o marron glacé em baixelas de prata.
. Antes de a batata chegar à Europa (séc. XVII), as castanhas eram a base da alimentação, especialmente no campo.
. Podem cozer-se, assar-se, fazer-se em puré, fazer-se sopa, doce, bolo, pudim, etc.

. Não há nada melhor do que sair à rua num dia frio e ouvir um vendedor de castanhas a apregoar "QUENTES E BOAS...".
Nas ruas de Lisboa é normal ver-se em várias esquinas estes vendedores de castanhas.

Em nossas casas, podemos assar as castanhas no forno a gás ou elétrico mas nunca ficarão tão saborosas como sendo assadas nas brasas.
Outras maneiras de comer castanhas em Portugal: cozidas em água quente com uma pitada de erva doce e um pouco de sal ou fritas em óleo vegetal como se fossem batatas fritas. Em todas estas versões as castanhas são cozinhadas com a casca e com um golpe profundo para evitar que estourem, isto é particularmente importante no caso das castanhas fritas, pois ao estourarem dentro do óleo fervente, podem provocar queimaduras graves.
Também podemos usar castanhas já descascadas e congeladas (vendidas em supermercados) como acompanhamento de carnes assadas no forno e que geralmente seriam acompanhadas por batatinhas. Substituindo-as pelas castanhas, poderemos transformar um simples assado num prato sofisticado!



Ana Flor do Lácio (11/11/2010)
Ana Flor do Lácio
Enviado por Ana Flor do Lácio em 11/11/2010
Reeditado em 23/12/2011
Código do texto: T2608825
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