Clássico do Futebol

Sempre que quisermos falar sobre futebol, teremos de nos lembrar da velha escola argentina, que tantos craques deu ao mundo. Uma infinidade de jogadores, segundo o saudoso cronista Geraldo Bretas, que foi um dos maiores, senão o maior, conhecedor do futebol argentino.

Pois em 1930, quando a Argentina foi vice-campeã mundial de futebol, em Montevideo, tinha uma equipe superior à do Uruguai, que veio a ser campeã, e que também tinha uma equipe muito boa, pois tinha sido campeã olímpica em 1924, em Bruxelas, e em 1928, em Paris. A equipe base uruguaia era: Balestero, Nazzazi e Mascherone; Andrade, Fernandes e Gestido; Dorado, Scarone, Castro, Cea e Iriarte, e nada tinha mudado nos últimos 6 anos. A Argentina, vice-campeã mundial em 1930, formava com Botasso, Dela Torre e Pasternoster; Evaristo, Monti e Suarez; Peucelle, Scopelli, Stábille, Barnabé Ferreira e Orsi.

A argentina, por questões políticas e administrativas deixou de participar das Copas de 1934 e de 1938, deixando assim, muitos grandes jogadores um pouco distantes de centros europeus. Mas isto não impediu que dois vice campeões de 1930, Luis Monti e Orsi, fossem campeões mundiais pela Itália, em 1934. Aqui uma curiosidade: o primeiro brasileiro a se sagrar campeão mundial foi Anphilóquio Guarisi, ponteiro do Corinthians Paulista, conhecido como Filó, participando da campanha italiana na Copa do Mundo.

Voltando a falar mais diretamente do futebol argentino, o C. A. River Plate montou um grande time em 1942, que logo ganhou o apelido de “La Máquina”, devido à categoria de seus jogadores. Na final do campeonato argentino daquele ano, empatou com o C. A. Boca Juniors por 2 x 2, que era outro grande time argentino, e sagrou-se campeão de 1942, com Barrios, Vaghi e Ferreira; Iácono, Rodolfo e Ramos; Deambrossi, Moreno, Pedernera, Labruna e Lostau. Era orientado por Renato Cesarini.

O Boca jogou com Estrada, Maranti e Valussi; Sosa, Lazati e Zarraga; Boié, Emílio Elena, Sarlanga, Gandula e Emeal. O técnico era Oscar Torrio.

Por volta de 1946, o Boca Juniors e o River Plate vieram ao Brasil fazer vários amistosos em São Paulo, jogando com o trio de ferro da época, que era formado por Palmeiras, São Paulo e Corinthians. E aproveitando a estada dos argentinos em São Paulo foi combinado um amistoso entre a Seleção Paulista e um combinado Boca-River, que era uma verdadeira Seleção Argentina.

Se a minha memória não me trai, os times formaram assim: Seleção Paulista com Oberdan, Domingos e Caieira; Valdemar Fiúme, Rui e Noronha; Cláudio, Servílio, Leônidas, Remo e Lima. O combinado Boca-River formou com Vaca, Marante e Dezorzi; Iácono, Néstor Rossi e Pescia; Boié, Moreno, Pedernera, Labruna e Lostau.

Resultado: Paulistas 1 x Boca-River 1 . Gols de Servílio e de Boié. Citando o cronista Geraldo Bretas, mais uma vez, ele dizia que a melhor Seleção que havia visto tinha sido a da Argentina em 1939. Nesse ano a Copa Roca, que era disputada entre os dois países, foi jogada no Brasil, com dois jogos. Brasil 1 x 5 Argentina e Brasil 3 x 2 Argentina. O importante é salientar que o Brasil estava passando por uma fase muito boa, vindo de uma positiva campanha na Copa de 1938, na França, conquistando um honroso 3º lugar. E ai na Copa Roca deixamos de ganhar por que a Argentina veio ao Brasil com uma grande seleção, até superior à de 1930, vice-campeã mundial no Uruguai.

Em 15 de janeiro de 1939, os portenhos nos golearam por 5 a 1 em São Januário, com 40 mil pagantes. A Seleção Brasileira formou com Batatais, Domingos e Machado; Bioró, Brandão e Médio; Luizinho, Romeu, Leônidas, Tim e Hércules. A seleção Argentina formou com Gualco, Coleta e Montanhêz; Arcádio Lópes, Rodolfi e Suárez; Peucelle, Sastre, Massantônio, José Maria Moreno e Garcia.

O arbitro da partida, como era o costume, era sempre da casa e foi o Senhor Carlos de Oliveira Monteiro, o popular “Tijolo”, que os cronistas disseram que deu uma mão ao Brasil, segurando os argentinos nos impedimentos. Deve-se acrescentar que o Sr. Carlos Nascimento, técnico da Seleção Brasileira, quis inventar e trocou toda a linha média brasileira, colocando Bioró, Brandão e Médio, deixando de lado Zezé Procópio, Zarzur e Afonsinho.

Veio, então, a segunda partida que aconteceu em 22 de janeiro de 1939, no mesmo estádio de São Januário, o maior estádio da época, lotado com 40 mil pagantes e com o mesmo arbitro, o Sr. Carlos de Oliveira Monteiro.

O resultado foi Brasil 3 x 2 Argentina, com um pênalti muito contestado pelos argentinos aos 41 minutos da segunda etapa. Até os 35 minutos da etapa final, os argentinos venciam por 2 x 1. A Argentina levou a Taça pela diferença de gols nos dois confrontos.

Nessa segunda partida o Brasil formou com Tadeu, Domingos e Florindo; Zezé Procópio, Brandão e Afonsinho; Adilson, Romeu, Leônidas, Perácio e Carreiro. A Argentina jogou com a mesma formação do primeiro jogo. Gualco, Coleta e Montanhêz; Arcádio Lópes, Rodolfi e Suárez; Peucelle, Sastre, Massantônio, José Maria Moreno e Garcia. O técnico argentino era Angel Fernandes Roca.

Para comprovar a força do futebol argentino, na Copa Roca de 1940, na Argentina, no estádio Viejo Gazômetro, em Buenos Aires. Nova lavada diante de 60 mil pagantes; Argentina 6 x 1 Brasil. A Argentina formou com Gualco, Salomon e Valussi; Araguéz, Peruca e Suárez; Peucelle, Sastre, Baldonero, Massantônio e Garcia. O Brasil, muito modificado e sem entrosamento, foi presa fácil para a “máquina” argentina. No dia 5 de março de 1940, o nosso time foi a campo com Aimoré Moreira, Jaú e Florindo; Zezé Procópio, Zarzur e Argemiro; Lopes, Romeu, Carvalho Leite, Jair da Rosa Pinto e Carreiro. Somente um paulista, Lopes do Corinthians.

Depois, em 10 de março de 1940, veio o segundo confronto no mesmo estádio com o mesmo árbitro, o senhor Bartolomé Macias. Os argentinos repetiram a escalação anterior mas o Brasil trocou vários jogadores e foi de Nascimento, Norival e Florindo; Zezé Procópio, Zarzur e Argemiro; Lelé, Romeu, Leônidas, Jair da Rosa Pinto e Hércules. O Brasil venceu a Argentina por 3 x 2.

Foi, então, feito um acordo para a realização de um terceiro jogo, deixando de lado a vantagem de gols, nas duas partidas. Só valeria vitória, por qualquer placar.

Assim, a 17 de março de 1940, no estádio Almirante Cordero, em Avellaneda, com o árbitro Bartolomé Macias no apito e diante de 50 mil pagantes, o jogo decisivo foi realizado. Resultado Argentina 5 x 1 Brasil. A Argentina formou com Gualco, Salomon e Valussi; Araguéz, Leguizamon e Suárez; Peucelle, Sastre, Cassan, Baldonero e Garcia. Técnico Guilhermo Stábile.

O Brasil utilizou o terceiro goleiro para este jogo e foi a campo com Jurandir, Norival e Florindo; Zezé Procópio, Zarzur e Afonsinho; Pedro Amorim, Romeu, Leônidas, Jair da Rosa Pinto e Hércules. O técnico foi o senhor Jaime Pereira Barcelos.

Voltamos a encontrar a Argentina no Sul-Americano de 1942, em Montevideo, no Uruguai. Argentina 2 x 1 Brasil com arbitragem do chileno Manoel Soto. A Argentina de Gualco, Salomón e Alberti; Esperón, Peruca e Ramos; Tossoni, Pedernera, Massantônio, José M. Moreno e Garcia. Técnico Guilhermo Stábile. O Brasil formou com Caju, Domingos e Osvaldo; Afonsinho, Brandão e Dino; Pedro Amorim, Zizinho, Pirilo, Tim e Patesko. Ainda jogaram Servílio e Pipi. O técnico foi o senhor Ademar Pimenta.

Em 21 de janeiro de 1945, durante o Sul-Americano do Chile, disputamos o título contra a Argentina, no estádio Nacional de Santiago, diante 65 mil pagantes. Resultado Argentina 3 x 1 Brasil, com a arbitragem do uruguaio Nobel Valentini.

O Brasil, nesse Sul-Americano, no entender de muitos cronistas conhecedores de nosso futebol, montou, talvez, a melhor seleção dessa década, com Flávio Costa no comando. Porém, encontramos uma Seleção Argentina com algumas novidades. No gol, Stábile colocou Ricardo. Na zaga entrou De Zorzi, na linha intermediária jogou Palma, Perúca e Colombo e no ataque entraram Munhóz, Dela Mata e Mendez.

Eram as caras novas da Argentina, um pouco renovada, mas muito técnica e objetiva e que contra o Brasil formou com Ricardo, Salomón e De Zorzi; Palma, Perúca e Colombo; Boié, Mendez, Dela Mata, Pontoni e Lostau. Jogaram ainda Martino, Sosa, e Farro. O Brasil formou com Oberdam, Domingos e Beliomini; Biguá, Rui Campos e Jaime; Tesourinha, Zizinho, Heleno de Freitas, Jair Rosa Pinto e Ademir.

Flávio Costa que ficou marcado por ter perdido a Copa do Mundo de 1950, no Brasil, era um inovador. Na época, taticamente era o nosso melhor técnico e muito ousado. Certa ocasião, no Campeonato Brasileiro de Seleções, pegou Mundinho e Augusto, zagueiros do São Cristóvão, Danilo e Jorginho, do América e também João Pinto, do Canto do Rio e foi campeão Brasileiro de Seleções, e fez uma seleção mais ou mens assim: Batatais, Mundinho e Augusto; Biguá, Danilo e Jaime; Pedro Amorim, Zizinho, João Pinto, Lelé e Jorginho.

O Brasil jogou muito contra os argentinos, e temos de dar razão a alguns cronistas brasileiros das décadas de 40 e 50 que diziam que o Brasil assimilou muitas coisas do futebol portenho, e que no futuro isso nos traria grandes conquistas. Todos podem avaliar o que apregoavam os velhos mestres do futebol.

Uma curiosidade: os argentinos, em geral ligados ao futebol, apontavam José Maria Moreno, meia direita do River Plate, e Zizinho, na época, no Flamengo, como os melhores jogadores da América do Sul. Isto até o aparecimento de Pelé. Os mesmos cronistas portenhos ainda diziam que Zezé Procópio e Afonsinho, dois médios de muitas Seleções brasileiras, eram talhados para jogar na Argentina, por que além de serem bons tecnicamente, não tinham medo de cara feia.

Em 20 de dezembro de 1945, no estádio de São Januário, lotado, sob a arbitragem de Mario Vianna demos uma goleada na Argentina, pela Copa Roca: Brasil 6 x 2 Argentina. O técnico Flávio Costa mandou a campo Ari, Domingos e Norival; Zezé Procópio, Rui e Jaime; Lima, Zizinho, Leônidas, Jair Rosa Pinto e Ademir. A Seleção argentina, comandada por Guilhermo Stábile, formou com Vaca, Marante e Sobrero; Fonda, Perúca e Batagliero; Boié, Pedernera, René Pontoni, Labruna e Sued. E era o momento da melhor seleção Argentina.

Ainda escreveremos mais sobre o Clássico Brasil x Argentina

Laércio
Enviado por Laércio em 02/11/2010
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