DESESPERANÇA

"Por onde alongue o meu olhar de moribundo,

Tudo a meus olhos toma um doloroso aspecto:

E erro assim repelido e estrangeiro no mundo.

Vejo nele a feição fria de um desafeto.

Temo a monotonia e apreendo a mudança.

Sinto que a minha vida é sem fim, sem objeto...

- Ah, como dói viver quando falta a esperança!"

Estas estrofes finais do poema "Desesperança", de Manuel Bandeira, calaram fundo em minha alma. Parece que foram escritas para mim. Parece que o poeta, do Plano além onde se encontra, vislumbrou meu ser angustiado, apático, desiludido. Foi como uma vidência, que atravessou o infinito e atingiu o meu espírito.

Estou perdida. Não sei de onde mais tirar a ilusão bonita que povoou meus sonhos juvenis. O tempo passou, eu passei. Olho para trás e vejo que muito do que eu queria, do que planejei, do que esperei, se perdeu nas brumas do tempo. Sonhei demais? É inerente ao jovem sonhar, as energias estão todas latentes e a gente se sente capaz de virar o mundo do avesso. Mas o tempo passa e os planos almejados vão escoando entre os dedos. De tal maneira que quando olhamos o passado, vemos apenas a fumaça do fogo que queimou as ilusões.

Normal é que se faça uma "lista" (e agora lembrei-me de "A Lista", do Osvaldo Montenegro) e de risco em risco, vamos eliminando grande parte do que não foi. Ou, do que já foi... A meia idade nos atinge como uma bofetada inesperada, porque nos damos conta que muito sonhamos e quase tudo se perdeu, pela impossibilidade de realização. Impossibilidades que podem se materializar em forma de incapacidade, na falta de oportunidades, na concorrência desleal, no financeiro insuficiente, na saúde frágil, no caminho errado que tomamos.

Estudos realizados nos Estados Unidos, confirmam que a melancolia, a tristeza e a desesperança, atingem de forma mais intensa, principalmente as mulheres, na meia idade. Eu volto a falar na letra de "A Lista" e lembro que é exatamente lá pelos 50 anos que olhamos para trás, que nos damos conta que já vivemos a metade de nossa vida adulta, que o tempo fica cada vez mais curto para se fazer planos. Não temos mais "a vida toda" para realizá-los. Nosso futuro é agora e não temos mais os arroubos e a esperança da juventude. O que está feito, está. O que pode ser feito adquire uma certa urgência. Ou é isso ou então "sentar à beira do caminho" e ver o que nos resta da vida passar.

Gostaria de escrever algo positivo, animador, mas é assim que me sinto hoje. Melancólica, insatisfeita, desesperançada. Só me resta pedir perdão a vocês por este desabafo.

Giustina
Enviado por Giustina em 18/10/2010
Reeditado em 14/02/2014
Código do texto: T2562761
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