NA PONTA DA AGULHA = EC
NA PONTA DA AGULHA
Quem viveu sua adolescência em alguma cidadezinha do interior nos anos 40 ou 50 deve lembrar-se das domingueiras, ou seja, bailes vespertinos para menores de 21, aqueles que ainda não podiam freqüentar as festas noturnas.
O som de uma vitrola fornecia a musica que chegava ao salão de baile pelo alto-falante.
Em outro cômodo um rapaz trocava os discos, virava a manivela, acertava a agulha e regulava a altura do som.
A agulha dava voltas, sua ponta deslizando caprichosamente nos sulcos do disco de vinil enquanto no salão os pares rodopiavam ao som de valsas, sambas e boleros.
A musica não era muito boa. Os discos eram usados muito além de sua vida útil e as agulhas ficavam logo com as pontas avariadas, mas a meninada nem reparava nisso, o que queriam era dançar.
Numa época de muita repressão a dança era oportunidade dos namorados se abraçarem e até, às vezes, arriscar uma roçadinha na face.
E a agulha rodava, rodava, enquanto a música enchia o salão e os pares abraçados rodopiavam, rodopiavam...
Por muito tempo eu não pude entender como é que aquela agulha podia provocar a música. Parecia-me a maravilha das maravilhas.
Até hoje tenho vontade de dançar novamente ao som da musica produzida pela ponta de uma agulha. ..
Ou será que estou com saudade daquele tempo?
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Este texto faz parte do Exercício Criativo – Confesso que ...l
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