Psicologia dos Vencidos.

Para toda mulher a separação judicial é impactante. O divórcio nem tanto, uma vez superadas as dores da ruptura imediata, ocorrida com a separação.

A mulher separanda sente desabar todos aqueles sonhos adolescentes que foram se arraigando vagarosamente em seus sentimentos, tais como, encontrar “o homem perfeito”, o “seu homem”, namorar romanticamente, noivar com glamour e contrair núpcias, numa festa de arromba, seguida de uma lua de mel inesquecível e a conseqüente formação da família perfeita, amando e sendo amada por todo o sempre.

Na sala do advogado desmoronam-se todos esses sonhos. “O cara realmente não prestava, um bola murcha, preguiçoso, putanheiro e alcoólatra, além de bater na mulher e nos filhos”. Findam-se os sonhos dourados.

Já com o cônjuge varão a coisa é mais embaixo. Não se importa muito, nada que um belo porre não faça esquecer. Porém no fundo se sente ofendido e humilhado, um vencido na vida. Aquela mulher era uma vadia sem vergonha, só interessada no luxo e no dinheiro, não dando a mínima para as condições do lar, além de me encher o saco quando tomava umas e outras.

Na verdade ambos se sentem derrotados na demanda, perdendo mais com a ruptura do que o outro(a), que levou isso ou aquilo, que se beneficiou disso ou daquilo, etc.

E por aí se segue o idílio percorrendo salas de escritórios de advocacia, vizinhança e salas de audiência, até que, por não ter nada mais a desabafar, resolvem assinar o termo que põe fim à sociedade conjugal.

Porém as coisas não param por aí. Segue-se que oportunamente surge a demanda alimentar, o quantum devido, as possibilidades do alimentante e as necessidades do alimentado, revivendo antigos dissabores, tornando a contenda mais acirrada. “O fulano pode, trabalha como autônomo numa oficina de autopeças, ganhando um mil por mês, podendo ajudar as crianças com um pouco mais. No entanto prefere ajudar a outra, comprando casa, carro e geladeira nova para ela, enquanto seus próprios filhos passam fome”. Não, ao contrário, aquela sem vergonha se casou de novo e recebe a ajuda do atual marido, além de perceber renda como vendedora autônoma de roupas e perfumes. É um disparate querer que eu pague mais. Desse jeito vou pra cadeia. Não tenho de onde tirar o que ela quer. Pelo amor de Deus, seu Doutor, me ajude!

É aí que entra a psicologia dos vencidos, parafraseando o poema “Psicologia de um vencido”, de Augusto dos Anjos.

Nisso o advogado vai se misturando aos fatos, servindo ao mesmo tempo como profissional do direito e de psicologia, auxiliando e amparando seu cliente desavisado, sobre quais caminhos deve seguir.

A questão é que cada qual, entre pais e mães separados, esqueçam as rixas pessoas e passem a pensar exclusivamente no interesse dos menores, únicos necessitados na questão, e que, apesar de darem os nomes na pendenga, não têm nada a ver com fatos e direitos. Pai e mãe têm de ter consciência que todo esforço tem de ser em prol dos filhos.

Esqueçam, porém, os motivos pessoais que levaram à ruptura do relacionamento, trabalhando a partir de então exclusivamente para o bem estar dos menores.

Esta a singela mensagem de um simples advogado de família, cansado de sofrer com as inúteis ladainhas de seus clientes.

Cristiano Covas, 02.08.06.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 17/09/2010
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