Problemas.

Todos têm seus problemas insolúveis, irremediáveis, aqueles deixados em cima do guarda-roupa, dentro da estante, no lixo da cozinha, aquele lixo imexível, ou mesmo dentro de algum livro abandonado há tempos na estante de livros velhos. Um livro que você nunca mais lerá!

Problemas assim são traumáticos, resgatam uma certa fraqueza íntima, arraigada dentro do âmago de cada um de nós. São vergonhosos e em sua maioria não são comunicáveis aos demais, talvez devido ao receio de que não compreendam ou de que não tenham problema de igual magnitude. São como a lepra para o leproso, que se veste com camisa de mangas em pleno verão carioca para não deixar transparecer as máculas, o horror da doença.

Desde o mais vil dos homens ao mais nobre imperador, o problema irremediável transmite sua dor lancinante! Nem queiram cogitar cidadão qualquer que não carregue dentro de si, tatuado no peito, um probleminha insolúvel qualquer, por mínimo que seja, que mina, que esgota e desola, tornando-se com o tempo cada vez maior e desagradável, causando coceiras, brotoejas e demais pestilências.

Todos os têm no bojo. Aí, dentre vós, quem nunca teve um? Porém escondem porque são insolúveis, de nada adiantando comentar com as comensais ou com os meirinhos do Tribunal de Justiça do Estado do Pará. E nem adiantaria também confessar com o padre da Capela Sistina, eles não entenderiam e por fim te encaminhariam para um sanatório ou te exorcizariam amarrado numa cama de lençóis amarelecidos.

Portanto, o melhor mesmo calá-los, aturá-los, como a um desagradável companheiro de viagem, ou comentá-los somente em situações excêntricas, em bebedeiras homéricas, em que depois todos se esquecem ou os assuntos são tidos como meras “criações literárias”, sem nexo com a realidade.

Outro dia vi na t.v. sobre um chinês que resolveu loucamente comentar um problema desses no salão de cabeleireiro e engoliu um tesourinha de cortar bigode, tendo sido urgentemente encaminhado para a sala cirúrgica! É que o tal chinês, ao mesmo tempo em que relatava o problema, vejam só, tentava extrair um fiapo de manga engastalhado entre seus molares inferiores. Só podia dar no que Deu! Por sorte sobreviveu, mas certamente nunca mais tocou no assunto, nem quis tirar fiapo do dente com tesoura.

E nisso existem milhares de relatos de pessoas que de algum modo se deram mal ao comentarem problemas irremediáveis, grande parte ligados a engasgamentos. É foda!

Engasgamentos são, em sua maioria, sanáveis; já os problemas, irremediáveis...

Problema, cada um com o seu!

Cristiano Covas, 14.05.09.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 16/09/2010
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