Acorda, Brasil! (EC)
 
 
Quando eu era criança...

Descobri que há muito tempo não sou mais criança, depois que percebi a quantidade de textos escritos por mim começando assim: quando eu era criança...

Não sou mais criança, sou uma mulher adulta, que vê a vida de maneira bem diferente do que via quando era criança. Mas ainda me lembro bem.
Quando eu era criança, nas cheganças da Semana da Pátria, minhas professoras de Português sempre pediam que escrevêssemos uma redação cujo assunto era o Brasil.
Sim, eu ainda me lembro bem...

Lembro-me bem que certa vez , apaixonada por um livro antigo, escrito ainda no século XIX pelo Conde Afonso Celso – Porque me ufano de meu país – fiz uma redação plagiando- o completamente.

Não me lembro mais dos temas tratados pelo livro nem da redação que fiz. O tempo apagou da minha memória quase tudo sobre o assunto, só restando esse título pomposo: Porque me ufano de meu país.

Sei que na época eu escrevia textos prolixos e pedantes e portanto devo ter escrito tudo o que eu sentia sobre o tema. Ufanar. Orgulhar-se de alguma coisa. E eu me orgulhava tanto... Se alguém se dispusesse a fazer uma estátua representando uma menina patriota certamente eu seria um modelo excepcional. Era impossível não perceber em meus olhos o brilho da paixão por meu país. Um lugar perfeito, grande, bonito, cheio de belezas naturais, de heróis que davam a vida para mantê-lo assim. Lembro-me de ter causado certo escândalo quando declarei do alto dos meus tamancos não ter certeza de que poderia ser uma mártir mas que tinha certeza de que seria uma heroína – ou seja, eu não morreria por nenhuma religião, mas por minha pátria, sim. Ainda bem que cresci. Hoje, nem mártir nem heroína : sou apenas uma cidadã descrente, mas não desistente. 
 
Não amo mais o meu país? Não vejo mais as coisas boas que ele tem? Não sou mais patriota? Claro que sou, mas não a ponto de morrer. Mas de continuar trabalhando para que ele realmente se torne um país digno de ser amado, sim.

Uma das imagens mais fortes sobre o Brasil, que eu tinha em minha infância era a do gigante adormecido. Ah, como eu sonhava com o dia em que ele iria acordar! Eu imaginava um homem com a cara do Cristo Redentor, feito de ferro, escarrapachado no chão de uma grande floresta onde dormia pesadamente, quase desnudo. Nada o acordava. Nem o canto dos pássaros, nem o barulho da pororoca. Ele ficava lá, dormindo. Hoje eu penso que ele acordou, mas malemalentemente....Esfrega os olhos, por isso não vê direito, os ouvidos foram cobertos de uma extensa vegetação que o impede de ouvir, e os músculos ficaram entorpecidos pela falta de ação. É por isso que ele não ouve e nem vê as coisas horríveis que estão fazendo com ele.

E é por isso que me veio a idéia de nesse Sete de Setembro fazer alguma coisa para mudar a situação. Mesmo sendo um grão de areia, não posso deixar de fazer a minha parte.

Li em algum lugar que, se em determinado momento pré-agendado, todas as pessoas do mundo derem um pulo, a rota da terra será desviada. Isso ficou em minha cabeça como a prova mais contundente de que, quando todos se unem, a ordem das coisas muda.
Então, convido a todos para se unirem a mim e em hora que podemos conveniar como as sete da manhã e as sete da noite, para chegar a sua janela e gritar com a força mais poderosa de sua voz, que é a força que passa pelo coração: ACORDA, BRASIL!

E se não der pra fazer isso vocalmente, mesmo que seja com a força do pensamento, vamos tentar agregar nossas energias e fazer alguma coisa pra acordar esse gigante semiadormecido que amamos tanto,