CÍRCULO VICIOSO

Há uma constante evolução no mundo, em todos os sentidos. Trata-se de algo essencial para todos, vez que não se fica estático. Não se pode parar, sob pena de involuir. Tudo passa e é necessário, principalmente para o ser humano, acompanhar esta passagem.

Talvez o aspecto em que mais se observam tais mudanças seja o processo comunicativo. Através de novos gestos, vocábulos... altera-se, o tempo inteiro, a forma de se comunicar. Quanto mais moderno, ousado, mais “in”. Ninguém aceita ficar “por fora”, “demodè”. Nenhuma crítica ao fato, já que faz parte do ser humano se promover, se melhorar, se cultivar e cultuar. E, se para isto for preciso competir, que tal seja feito.

E a forma de se comunicar, seja através de gestos, palavras, roupas, ou o que quer que seja é o cartão de visitas de qualquer um. É o que choca ou encanta, inicialmente. Assim, deve-se cuidar, saber o que está na moda, o que destaca para não virar “prego”. Em termos de moda, quem não se atualiza não “está com nada”. Em termos de linguagem, quem não conhece as gírias é “bundão”.

A forma verbal talvez seja a forma mais usual de se travar contato com os semelhantes, seja na fala, seja na escrita. Pode-se fazê-lo a distância, de forma cada vez mais instantânea. Acompanhar a modernidade do sistema de comunicação é o desafio do momento. Qualquer professor de comunicação hoje se transforma em mero professor de gramática, já que “comunicação” se tornou algo mais amplo, do domínio do aluno. As gírias, as abreviações, os neologismos... mas, principalmente, a linguagem da internet. Própria. Toda específica e especial.

Mas, além da evolução do uso das palavras, o quê mais assusta hoje é o tempo. Não o da mudança, mas o da realização do contato. Mensagens instantâneas pela internet, pelo celular... Mensagens pela internet através do celular. Mensagens com áudio e vídeo... Impossível listar.

Observando-se o objetivo da comunicação, pode-se estabelecer uma relação causa/conseqüência entre a rapidez da mesma e a efemeridade das relações pessoais. As pessoas tendem a manter relações fugazes, passageiras. Inicia-se uma relação “amorosa” com prazo de validade. O negócio hoje é ficar. Namorar é coisa de careta. Casar-se???

Para que ficar preso a alguém se é possível diversificar? Se o campo está propício para isto, se há tanta oferta no mercado? Pode-se – e deve-se – manter contato simultâneo com um ou mais parceiros. É o poder pessoal. É o “must”.

Se se pode economizar o tempo gasto para manter contato, deve-se aproveitá-lo usando as mais diversas formas de se relacionar. E com as mais diversas pessoas. E com os mais diversos objetivos.

Assim, as pessoas vão-se relacionando mais e con-vivendo menos, como disse Drummond. Porque um simples contato não significa partilha. Porque uma verdadeira relação amorosa exige cumplicidade. Compromisso. Seriedade. Respeito. Tudo o que a efemeridade exclui. E essa falta de compromisso com o outro se torna recíproca. E se forma o círculo vicioso. E parece quase impossível reverter o processo. Pois não há como deter o progresso. E ambos – progresso e relação pessoal – encontram-se interligados. Infelizmente.

Belo Horizonte, 19/09/06

Pabinha
Enviado por Pabinha em 19/09/2006
Código do texto: T243937
Classificação de conteúdo: seguro