Solidão

Dizem que o cachorro do mendigo não o abandona jamais. Que esta é uma característica canina, nunca duvidei.

Existe cão famoso, Azor. Em “Humilhados e Ofendidos”.

Azor jamais abandonou seu dono. Compartilhava com ele as agruras do mundo.

Mas Bimbo, um vira-lata comum abandonou o velho mendigo por fome.

É natural que isto aconteça. A fome é uma desgraça que não atinge, naturalmente, só os seres humanos, todos sabem disso.

E Anastácio, seu dono, ficou sem a única companhia que possuía. Sentiu muito a perda. Afinal. Era o seu único amigo.

Bimbo saiu mundo afora, revirou lixo, encontrou comida de primeira que não se sabe a razão, jogam fora. Encontrou cadelas que o aceitaram.

O mundo é estranho. Bimbo estava gostando da nova vida, comida vez por outra, cadelas igualmente. Mas mesmo os animais de estimação sentem saudade, quem não sabe disso?

Sentiu saudades da mão que o afagava, no frio da noite. Quando a cama era papelão grosso, e a coberta de trapos recolhidos nas ruas.

Os cães têm memória privilegiada. Encontrou o antigo dono. Mas tinha gente, muita gente olhando ao redor. Seu dono havia morrido, ninguém sabe se de fome ou de frio, ou dos dois juntos.

Dizem, eu não sei se isto é verdade, que Bimbo morreu três dias após.

Jorge Cortás Sader Filho
Enviado por Jorge Cortás Sader Filho em 07/08/2010
Código do texto: T2424182
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