A Gravata.

Com o enlace matrimonial o homem, pai de família, outrora caçador infatigável, concentra suas atenções ao sustento do lar, buscando a qualquer custo manter condignamente a sociedade familiar, não permitindo que mulher, filhos, netos, sogras, etc, sejam vítimas de desamparo financeiro, emocional ou psicológico.

O marco inicial desta derrocada dá-se com a chamada “gravata” nas festas de casamento, quando o agora “pater familia” empreende, juntamente com alguns amigos embriagados (muitos se aproximam apenas para escapar ao pagamento), a coleta de doações aparentemente destinadas em prol de viagens de lua-de-mel.

Diz-se ser o primeiro momento em que o cidadão, já enrustido na carapaça de marido, dá as caras aos pseudocredores não ânsia, muitas das vezes desesperada, de obter algum trocado que lhes dê, a ele e ao seu cônjuge, alguma garantia de tomar champanha francês na lua-de-mel, que em muitas das vezes também se transforma em lua de fel.

Há também situações em que a mulher casamenteira, numa ampla atitude de libertação feminista, irrompe da multidão, com a calcinha em riste, colhendo verbas dispondo um pedaço do tecido como gratificação. Nesses casos, dependendo da fisionomia da fêmea, concede-se algo mais avantajado. Porém, são outros quinhentos.

As interpretações antropológicas a respeito do ato de usar gravata para obter vantagens financeiras nas festas casamenteiras provêm de longa data na cultura de nossa esfera regional. Há exemplos mirabolantes de fugas e tentativas de fugas das famigeradas gravatas cortadas. Existem as “mesas rodopiantes”, que trocam de lugar conforme circula a roda graveteira; existem também os conhecidos “grupos informais”, ou seja, aquele grupo de pessoas que, normalmente quebrados, recusam a firmar territórios em mesas, sob a alegação que estão de partida, sendo que na verdade estão mesmo na espreita, preparados para dar no pé quando o perigo se aproximar. Por fim, sem dar muita trela a exemplos, existem ainda os “bexigas furadas”, ou seja, aqueles cidadãos que estão sempre necessitados de ir ao banheiro. Esses são os mais comuns e discretos.

Nessas ocasiões o noivo casamenteiro sempre se apresenta com uma cara de paspalho, como quem não quer nada com nada, parecendo um cãozinho arrastado pela coleira por seu dono, no caso, seus amigos ébrios.

A gravata, à qual não sei a origem, no dicionário Aurélio possui sete significados, ou seja,

1. Tira de tecido, estreita e longa, usada em volta do pescoço e amarrada em nó ou laço na parte da frente.

2. Manta, lenço ou fita usados como gravata (1).

3. Tira de couro, ou coleira, que os militares usavam.

4. Zool. Penas de cor diversa das do resto do corpo, que orlam o pescoço de algumas aves.

5. Art. Gráf. Fio que separa o cabeçalho do corpo de uma tabela.

6. Bras. Golpe sufocante aplicado com o braço no pescoço do contendor ou da vítima.

7. Bras. RS Decepamento, degola.

Por último poderíamos acrescer mais um significado, que seria golpe sufocante dado pelo noivo e seus comandados nos bolsos dos convidados de festas casamenteiras.

Cristiano Covas, 07.07.06.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 07/07/2010
Código do texto: T2363178