A JOVEM MUTUÁRIA: História não escrita

Nas primeiras águas de 1986, Maria das Dores procurou uma agência bancária para contratar empréstimo de custeio agrícola, apresentou o recibo da compra de uma nesga de terras no município de Elesbão Veloso, e fez sua ficha.Solteira e sem filhos, as mãos estreladas de calo,ela dizia com orgulho: “não sou pesada a ninguém...minha gleba é toda cercada de pau à pique e tem uma casa de taipa muito boa, um colosso!
Idade, dona Maria, indagou o investigador de cadastro.
— Vou fazer sessenta no mês vindouro...
— Tem algum apelido?
— Pumodi qui vosmicê pregunta? Me chamo Jove derna di mininina!
No final do expediente, o chefe quis saber do assistente, se ele havia liberado a primeira a parcela do custeio de Maria das Dores...
— Das Dores? Ah, sim! A jovem? Levou o dinheiro sim...
Dois meses depois...
— Eu vim me queixar da porca da vizinha...tá comendo meu “mii!" Aquela porca parece que é cria do “mandi”, sabe abrir “inté” pau de porteira...
Jovem, disse-lhe o chefe. A senhora já recebeu a parcela dos tratos culturais?
— Trato de quê?
—O dinheiro para capinar, já recebeu?
— Não sim ô! E num vai ter capina nem “cuiêta” se eu num der cabo naquela porca!
Pois vou antecipar a liberação da segunda parcela... A senhora leva o dinheiro e propõe compra. Se a dona vender, mate a porca, venda uma parte à vizinhança e coma o resto, mas se tiver canjiquinha... se tiver canjiquinha...faça sabão da danada!