QUE PREGUIÇA!

“Espere por mim, morena

espere que eu chego já...”

Talvez não haja nada mais ingrato e desumano que esperar. Cansativo, estressante ao extremo. Principalmente quando você agendou algo, ou seja, está de comum acordo com outrem. É uma falta de respeito. Não sei se dói mais a espera ou a constatação do desrespeito. Infelizmente, é o que mais acontece, principalmente nos serviços públicos. E o pior é que se trata de pessoas necessitadas, em sua maioria, que não dispõem de tempo e/ou condições físicas e até mesmo psicológicas para tal.

Mas não há nada que possa ser feito. Quanto mais se reclama, mais deixam o outro na espera, como se fosse um erro reclamar direitos. E o medo de ser mal atendido, de ver negados direitos irrevogáveis, tudo isso inibe a reclamação. Quando ela acontece, o reclamante é tachado de “barraqueiro”, inexoravelmente. Se bem que, muitas vezes, as reclamações são feitas de tal forma que merecem o adjetivo, o que não as desmerece, de forma alguma. Continua tendo sua validade.

Espera-se por tudo na vida: o pagamento que se atrasa, o(a) parceiro(a) que nunca aparece ao encontro, ou mesmo não nos aparece, o emprego que se nos distancia cada vez mais...

E o ônibus que não vem nem “a pau”? Parece que horários simplesmente existem para serem descumpridos. E quando vem, está sempre lotado. Quando não “janela” todo mundo, deliberadamente. Outras vezes, à noite, passam com o letreiro apagado, como se tivéssemos duas lanternas em vez de olhos. É “osso”! Depois, para complicar, literalmente, arrancam com as pessoas, não importa se velhos, jovens ou deficientes, ainda se ajeitando. Quando passam do ponto, apesar do nosso sinal, então... Bem, deixemos o velho “gol” (grande ônibus lotado) em paz. Vamos de táxi. Isso, se ele passar vago, o que é raro.

Espera-se também, impacientemente, o início do “show”. Sem contar quando aqueles que fazem a abertura do mesmo, embora mereçam o nosso respeito, não são aqueles a quem fomos assistir. Como se tornam duradouros!

Espera-se a vergonha na política (credo, Lula!), o aumento salarial (só acontece de serviço), a queda da taxa de juros (quanta promessa!), a melhoria do sistema educacional, do sistema de saúde, das taxas de contribuição (quem disse? é mais imposição) previdenciária, sindical, de imposto de renda (que renda?). Devo citar a esperança de que o P de CPMF se torne realmente de PROVISÓRIO e não de PERMANENTE?

Inquietante também é a espera pelo resultado do exame, além da “alta” das injeções diárias. Apesar do gostoso convívio com os demais pacientes e profissionais que nos atendem, não deixamos de sonhar com ela.

Talvez a coisa que menos se espere seja a morte. Entretanto, talvez também seja a mais certeira. Ela nos espreita a cada curva, não necessariamente aquela por onde passou o vento. Só que ele não a fez; permaneceu constante, trazendo sempre notícias, boas e más. Uma delas é o aviso de que a víbora nos vigia. Apesar desses avisos, ousamos, constantemente, desafiando-a, seja saltando de pára-quedas, praticando alpinismo, automobilismo, praticando “rachas”, sexo sem preservativo, atravessando as ruas fora das faixas ou passarelas, dirigindo bêbados e/ou sonolentos e tantos atos mais... Só Deus sabe a data em que ela dará as caras e nos protege de sua intempestividade. Aliado aos médicos e demais profissionais da área de saúde, alguns maravilhosos (muito obrigado, Eduardo de Menezes / Hospital Dia / ADT), outros nem tanto (nem merecem referência).

Espera-se, também, pela cura do câncer e da Aids (é o que nos resta). Esperamos também que todos tenham, acometidos de tais males, tratamento adequado, carinho e compreensão; enfim, apoio total e irrestrito. E, além disto, a “cura” do preconceito, talvez o pior “câncer” de que pode ser acometido alguém. Talvez o desrespeito e a pretensão se refiram a causas do preconceito, ou seja, estejam, de um modo ou de outro, no mesmo grupo. Precisam de cura imediata. Não esqueçamos a corrupção. Que vergonha!

Porém, há esperas que nos satisfazem. São gostosas, excitantes. Como as férias e os feriados próximos, a visita do amigo, dos irmãos, dos sobrinhos, principalmente dos pais. Também agradável é a espera pelo contato pessoal com pessoas que admiramos, pessoal ou profissionalmente, como, por exemplo, os citados médicos, ou mesmo pessoas que simplesmente, por motivos vários, nos encantam, como José Lúcio Bolina ou Bernardo Dania Guiné.

E esperamos, mais ainda, nunca perder a esperança. Enquanto precisarmos esperar, paradoxalmente, teremos porque viver. É inadmissível a vida sem objetivos, sem luta. Então só nos resta esperar. Esperar que não percamos a capacidade de esperar.

01/07/05

Pabinha
Enviado por Pabinha em 04/09/2006
Reeditado em 28/10/2006
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