Sétimo Selo

Final de domingo. O mesmo sentimento ruim e confuso que sentimos quando ouvimos aquelas musiquinhas que acompanham os programas de TV destas horas. Sabe aqueles programas que de uma forma ou de outra acabam fazendo parte da nossa paisagem mental.

Impossível se ver livre deles.

Mas é estranho no meu caso porque já há algum tempo, depois de mais trinta e seis anos de trabalho no mundo corporativo me afastei desta rotina da segunda feira. Tanto que a minha agenda para segunda feira dizia:

1- Continuar a leitura do livro, "Além do bem e do mal".

2- Entrar no Twitter e ler o que os meus Avatares, aqueles meninos com menos de vinte e três anos trouxeram de novidades a respeito da Web, de novas tecnologias e ler o próximo verso de Manoel de Barros

4-Passear um pouco pelo facebook

5- 2 horas de academia/ Spinning

Pensei, porque então esta síndrome do final de domingo?

No meu caso síndrome do membro amputado.

Intuitivamente, decidi ir para a locadora, aluguei um filme do Bergman. O Sétimo selo, o qual já tinha visto no Cine Mirela em Santa Rita do Passa Quatro, quando ainda cursava o colegial. Isso já a um milhão de anos mais ou menos. Lembrava-me da sena do Senhor Antonious Block interpretado por Max Von Sydow, jogando xadrez com a morte. Lembrava-me também da cena do início, o cavaleiro e seu escudeiro de volta das cruzadas dormiam na praia, o tabuleiro de xadrez e o mar ao fundo. Tudo em preto e branco. O tempo e o vento.

Á! Mas tinha me esquecido do quanto poético são os diálogos e de como Igmar Bergman conduziu o conflito entre razão e fé ao longo de todo o filme.

Este filme é capaz de nos colocar na mesma situação daquele senhor o que buscava somente respostas e não esperanças, mas que nem mesmo a morte tinha o que dar a ele, além da morte em si.

No meu entendimento este filme mostra a solidão do homem completamente perdido no mundo da razão que trás o conhecimento das coisas, mas não a sabedoria. Conhecimento que trás o conforto material, mas não respostas para nossa solidão.

Extraordinária a última cena. Caminhando sobre a planície a morte com seu traje negro e sua foice seguia conduzindo o cortejo das almas colhidas, o único fato do qual temos total certeza nesta vida.

Talvez a síndrome do final do domingo seja a certeza da inutilidade daquele mundo que teremos que enfrentar na segunda feira. Um mundo onde somos coisificados, onde não passamos de dentes de um enorme engrenagem de uma roda que roda e roda, para no final não chegar à lugar nenhum. Este é o principal desafio para o homem contemporâneo, encontrar de novo o sentido.