Um sentimento para a eternidade.(EC)
 
 
“Que lembrança de minha vida eu escolheria para passar com ela toda a minha eternidade?  Que coisa tão boa assim aconteceu comigo que eu não quero esquecer?Eu não sei, não sei mesmo. E isso está me deixando aflita.

Procuro acalmar-me e deixo as lembranças de minha vida fluírem como um regato. Estou assentada em sua margem com as mãos na água que passa entre meus dedos e enquanto isso vai passando pela minha mente alguns momentos de tranqüila felicidade, lembranças tão simples, sempre ao lado de pessoas que amo, ou sozinha em lugares tranqüilos, como caminhando por uma praia, bebendo água da bica, fazendo piquenique no parque, vendo filmes caseiros da vida em família... coisas assim tão simples que é difícil acreditar que é só isso que não quero esquecer, que é só isso que gostaria de reviver para toda a eternidade. Deve ter havido alguma coisa mais, no entanto não me lembro de nada tão interessante que possa ser transformado em algo tão inesquecível que eu queira carregar  e que mereça ficar para sempre comigo.7/3/2010”

Este é o trecho final de uma crônica publicada por mim no Recanto das Letras em 07 de março deste ano – Para toda eternidade. Nele solicito a todos que, caso queiram, comentem sobre sua lembrança inesquecível, aquela que gostariam de levar consigo para viver por toda eternidade. E agora vem a Angela Rodrigues Gurgel devolvendo o 
desafio, através do Encanto das Letras. Eu não sabia que meu convite iria voltar como um boomerang e me atingir em cheio, mas já deveria esperar porque sou uma adepta ferrenha da lei de causa e efeito. E agora fui instada a pensar mais um pouquinho tentando encontrar essa lembrança tão especial.
 
      São muitas as minhas boas lembranças, as que poderiam se repetir indefinidamente e eu me sentiria no céu com cada uma delas e viveria com qualquer uma delas por toda a eternidade. Mas ao mesmo tempo achei que era preciso buscar algo especial, algo que tenha vindo de dentro para fora e não de fora para dentro. Entre as coisas que acredito também está a certeza de que a felicidade não pode nos ser dada, temos que buscá-la e buscá-la dentro de nós. Não pode ser algo que alguém fez por mim ou para mim.Tem que ser algo que senti e para senti-la eu não dependi de ninguém nem de nada. E eu tenho dois momentos assim, ocorridos em tempo e espaço diferentes, mas que causaram a mesma sensação. E é assim que penso que o Paraíso deve ser e espero ainda senti-la outras vezes antes de senti-la por toda eternidade.
 
 A primeira vez foi em nossa Fazenda. Eu estava sozinha, caminhando pelos pastos. Caminhando a toa, sem rumo, não a trabalho. Vagando a esmo. E então, pensei que fosse voar. Fui tomada por uma sensação tão grande de felicidade que pensei estar me integrando ao Todo e desintegrando de mim mesma. Nenhuma preocupação, nenhuma dor, nenhum apego. Durou quanto tempo? Não sei, mas me pareceu que seria eterno. E quando a sensação desapareceu por muitos e muitos dias npermaneceu em mim aquela leveza próprio dos espíritos. 
 
Algum tempo depois, viajando para o litoral da Bahia, Porto Seguro, acordei de madrugada e senti uma imperiosa vontade de me levantar. Fui arrastada para a varanda do meu quarto de hotel onde me assentei e fiquei olhando a mata em frente. Então ela veio, a sensação de estar no céu. De onde eu nunca mais queria sair.
 
Sem desfazer-me dos bons momentos de minha vida, é isso que quero para mim, por toda a eternidade: não uma lembrança se repetindo, se repetindo, se repetindo...,  mas um sentimento, que há de ser ao mesmo tempo eterno e profundo, preenchendo todos os vãos da minha existência para que eu me torne enfim,essência. (18 de abril de 2010/aniversário de minha irmã Regina), 
 
 
 
 Este texto faz parte do Exercício Criativo - Uma Lembrança para a Eternidade
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