HOMEM BOMBA

Em algum lugar do universo não estou, alucinado por mim mesmo, enquanto o canto se cala e a palavra não vale nem um tostão furado. Estou assim igual a mim mesmo, quem sou eu? Me transformei num ser totalmente selvagem neste mundo on-line.

Pichei meu coração assim, palavras roubadas de outros muros. O corpo arde de febre enquanto anestesiado assisto passivamente ao meu próprio assassinato. No meu velório ainda ouço guitarras distorcidas, gemidos azuis, sons de outros mundos.

Dançava em cima da mesa sem me importar com os presentes, nem com os passados, só os meus futuros me interessavam, futuros presentes.

Não que eu só pensasse nisto, nem pensar, era naquilo que eu me focava, nariz de foca, trocadilho sem graça, engraçado mesmo só o fato d’eu não saber nada sobre mim mesmo, mesmo, faço isto sempre, não faço o que quero também quem mandou acreditar em tudo, quase tudo, quase nada, tudo não passava de alucinações criadas nos campos da minha adolescência, inocência que foi logo substituída, eu fui substituído, trocado, fui para o chuveiro mais cedo.

Eram textos longos demais que me cansavam, não conseguia nunca chegar ao final, então atalhava, cortava caminho, resumia, fazia de tudo para acabar logo a tarefa e me entregar ao ócio, logo naquela idade, onde todos já pensavam no futuro, casa, carro, casamento, e eu mais louco que eu mesmo, me distanciava, ia fundo, fundo demais, extravasava, urrava, pulava, enquanto sorria. Pensava, isto nunca vai acabar.

Fui fundo demais, não sabia, Einstein, que sua relatividade ia me pegar logo agora, nesta curva, nesta encruzilhada. Não existe volta, só revolta, comigo mesmo, pestanejei. Foi uma revolta assim passiva, como quase tudo, nada foi quebrado, não falei mal de ninguém, apenas sofri. Por alguns poucos segundos apenas, depois, sorri.

Resumindo, sumindo, desapareci. Não me lembro de mais nada, tudo acabou como começou, sem pé nem cabeça, tudo sempre igual, nada parecido, palavras que me envolvem, me conquistam depois vão embora. Também fui, também vou, é assim que funciona, tudo nasce cresce e morre, animal e vegetal, semente, fruto e fruta. Nenhuma conexão entre estes parágrafos, frases que parecem minhas fases, alucinógenas, venenosas e prontas pra explodir este homem bomba.

florencio mendonça
Enviado por florencio mendonça em 03/04/2010
Reeditado em 14/05/2015
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