QUANDO O PARQUE CHEGOU

QUANDO O PARQUE CHEGOU

No longínquo ano de 1960 o Engenho do Ribeiro era um pequeno vilarejo. Sem energia elétrica, com suas casas de uma simplicidade impar. Havia uma meia dúzia de chalés um pouco mais modernos sem nenhum luxo. Nada de eletrodoméstico. Pouquíssimos rádios. Somente algumas pessoas de poder aquisitivo mais elevado, os possuíam. Havia: farmácia, padaria, posto policial, grupo escolar, cartório de registro civil, uma beneficiadôra de arroz movida por um motor a diesel, na qual eu trabalhava, intercalando aos outros serviços, na fazenda de meu pai. Algumas vendas e botequins comercializando bens de consumo.

As diversões e áreas de lazer não existiam aqui nem nas regiões adjacentes. O meio de transporte precário somado as péssimas condições das estradas, tornava longínquas as pequenas distancias. Um pequeno parque ou circo que pintava no povoado era um prato cheio, preenchendo a nossa carência por diversões.

Lembro-me de um belo dia... Estávamos no inicio do outono, o sol amarelo já vertido para o horizonte bailava por entre as nuvens brancas, que, como plumas de algodão, vagavam sem rumo no infinito azul do céu. O escapamento de uma mangueira no motor me fizera interromper o trabalho cessando a barulheira da maquina. Por alguns minutos, ficou inóspito o meu entorno no local, aliviando meus ouvidos e dos visinhos. Descontraido eu tentava sanar o problema. De repente explodiu no ar uma bela e harmoniosa melodia como se caindo das nuvens, quebrando o silencio e a monotonia no nosso pacato vilarejo.

Pareceu-me algo celestial vindo das alturas, como uma orquestra encantada, na mais bela magia sentida por meu imaginário.

Eu... Um jovem sonhador prestes há completar 18 anos, enamorado de uma linda garota três anos mais nova. Vivenciando a mais bela fase de minha juventude, cheio de vitalidade amor e fantasia. Inesperadamente senti-me inebriado por aquela sensação de magia, que mais parecia, o som provocado pelo cântico de uma sereia; peguei minha bicicleta e fui conferir o que estava ocorrendo.

Era um parque de diversões recém chegado, sem ser percebido pela maioria da população. Atualmente nada representaria, mas naquela época diante de tamanha carência em lazer, uma aparelhagem daquela, era pra nos de tirar o fôlego. Retornando ao trabalho aguardei com ansiedade a chegada da noite para deleitar naquela área de lazer tão rara.

Era tão pequena sua estrutura que em poucas horas estava montada. De propriedade de gente simples como a gente mesmo. Em poucos dias conquistaram a amizade da população.

Seu proprietário com muita simplicidade e arte, desempenhava o papel de ator principal, apresentador e palhaço, individualmente apresentava um variado mumero de papel.

Lascado seu nome artístico, nome que ficou na historia como apelido de um de nossos conterrâneos. Herdado após sua partida quando as crianças do povoado montaram diversos espetáculos inspirados no parquinho, que ao partir, deixou um imenso vazio em nossos corações, e profunda solidão, na praça da igreja onde estivera instalado. Sua temporada por aqui nos proporcionou lazer e entretenimento, naquela bela fase de minha vida. Quando tudo parecia um sonho, e nada era de verdade, ante as fantasias de minha juventude. Saudosos momentos que me marcaram pronfundamente, e se foram num instalar de dedos, como aquelas nuvens brancas que ilustravam a bela paisagem gravada na minha lembrança.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 02/04/2010
Reeditado em 21/08/2020
Código do texto: T2172634
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