Feliz Páscoa

Assistindo à televisão. Pronto, aí está o símbolo máximo. Um coelho branco, bonitinho, no colo de um menino, ou outra propaganda de chocolate do concorrente, parodiando, uma linda menininha e outro coelhinho sapeca correndo com ela atrás rindo, parando, admirando e se espantando com a quantidade deles, coelhos e ovos à sua disposição. Ela senta-se, ele também, do outro canal de televisão e fazem a festa. E mostram para milhões de crianças, que, como eles, estão sentados em outros lugares que a propaganda não irá mostrar. Pronto, Feliz Páscoa. Acabou?

Sim, acabou a parte prática do anúncio de fabricantes. E agora, depois do intervalo, para assustar a essas mesmas crianças, plaft ou slapt ou tunda, não sei bem como escrever para representar o látego contra o senhor. Já com a cruz pesadíssima em seu dorso e caminhando e levando as três, vamos dizer, para não ficar brigando por causa do sentido da chibatada. Doeu, porque o ator gemeu. Deve ter sido sem querer, daquele soldado que lhe bateu. Estava sorrindo. Talvez não goste do ator principal. E o diretor não mandou cortar nada, está ótimo. É a melhor história ou estória da humanidade. E tome outra chibatada. As coitadas das mulheres, todas fingidas, são atrizes, choram e choram, desconsoladas. E a humanidade também. Melhor, as irmãonidade. Certo? Claro que sim, somos irmãos. Todos. Afinal um dos filhos, aliás, o único, preferido dele estava sendo achincalhado, jogado, estuprado no sentido não literal da forma. Estuprar criancinhas fica por conta de seus controladores de cordeiros. São o que são as crianças, cordeiros na mão dos representantes de deus. Slapt, tunda e mais um plaft. Vou fazer corretamente. Tunda é quando a cruz cai, slapt seria a bofetada que leva e plaft o vergalhão com aço na ponta, ou ferro, ferindo e tirando lascas da carne dilacerada. E sangue, muito sangue. Corta!

O doce de cereja, coberto com calda de chocolate. Feliz Páscoa, diz a vovó para o netinho e a netinha. Outra fábrica. No anúncio de progresso na revista, confirmando e consolidando a sua vontade de ser a maior, diz isso. Vamos para um mercado de cinqüenta milhões de ovos de páscoa. Uma verdade ode aos famintos de delícias. Trufados, crocantes, estimulantes para a gordura e o apetite voraz. Feliz Páscoa. As casas estão vendendo sem juros... passa para o outro canal. Feliz Páscoa, o mesmo anúncio...troca para outro canal. Plaft. Oba voltou o filme, quase perco a continuidade. Plaft, plaft, plaft e o cinema mostram o suor que é e a dor que sente em bater no coitado do ator carregando a cruz. Agora, nesse instante, outro pega para ajudar o único filho de um deus terrível que não ajudou o seu único filho, único filho sim, só através dele e das brincadeiras que faz podemos ascender e beijar a mão do todo poderoso. Terrível. Bem, recentes pedófilos e pais que não cuidam dos filhos e filhas, até os matam, jogando dos edifícios, sabe, construção atual, do quinto e não é dos infernos, de andares, sexto e até das coberturas. E plaft, tunda ou slapt. O barulho não dá para descrever. É terrível. E esse mesmo senhor, do qual somos feitos à sua imagem e semelhança, não salvou o seu único filho para dar um exemplo correto para a humanidade. Desculpem. Irmãonidade. Isso somos irmãos. Então, o mais velho pereceu na cruz, slapt, tunda e plaft e ele não fez nada. E depois nos diz que devamos salvar aos nossos filhos. Para que, para uma Feliz Páscoa vendo a maior estória da humanidade. De ser achincalhado, vilipendiado, estropiado total embaixo de um merecedor do céu. Somente ele. Porque o resto da humanidade esqueça-se, irmãonidade vai perecer. Sim, assim se faz. E ele aparece agora, gritando até urrando de dor com os pregos nos pés e nas mãos. Que horror. E é a melhor estória da humanidade. Sim, humanidade cristã. Um bilhão, aproximadamente, de pessoas acreditam nessa barbaridade. Porque os outros cinco bilhões, atualmente, de irmãonidade acreditam em bombas para tirar o direito de viver em paz. Explodindo. Bem, deve ser a tal de tunda, slapt e plaft também. E lá se vão mais humanos, ou seres de outros planetas em visita a essa verdadeira balbúrdia e confusão.

Feliz Páscoa, uniformemente. Todos com o mesmo espírito de destruição.

Feliz Páscoa, unilateralmente. Nós seremos salvos, desde que soframos e façamos sofrer a todos à nossa volta. Inclusive aos filhos, lhes ensinando que um senhor no céu, pode ser embaixo ou em cima de qualquer espaço que se possa olhar, faça disso a sua maior obra.

Feliz Páscoa, diversificando igualmente. De um para outro, para a eternidade. E o flagelo do látego do senhor, a cruz irremediavelmente chamando a atenção para o fato. Sofra você, o coelhinho da paz vai lhe trazer um recheado com bombons. E talvez um crocante, chocolate branco com aveia e outras frutas secas. E torradas.

Feliz Páscoa, finalmente. Acabou o relato de um homem desesperado. O escritor, todos, são mesmo alarmista. E gostam de falar mal do bem da humanidade. O crucificado. Ele, o totem indelével e inatingível. Só ele pode ascender ao pai. Então está certo. Eu sou filho da minha mãe e do meu pai, realmente. Está na certidão. E não filho de outro homem. Isso se chama adultério. E é pecado. Aliás, tudo é pecado. Originalmente ele me é imputado. Só que não pedi para nascer. Os meus pais sim, disseram que me amam e amaram até morrer. E espero que tenham ido para o céu. Sabe-se lá, pode o único estar distraindo vendo tanta gente ao mesmo tempo e fechou a porta por um segundo. Um segundo no céu são milhares de anos na nossa terra. Embaixo dela depois que morremos e vamos esperá-lo. Será mesmo que ele volta para essa agora Feliz Páscoa. Quem sabe. Se talvez, nessa, a gente consiga tirá-lo, melhor, não deixar que chegue na cruz. Ele pode conversar e convencer a aceitá-lo, integralmente.

Feliz Páscoa olha só o coelhinho fugindo da menina rindo, bem alegre e satisfeita. E o menino, no outro canal, também. E se empanturrando de chocolate. Bem, original é o fato de ter uma propaganda de lenitivo para o estômago. E refrescante.

Feliz Páscoa. Definitivamente, acabou. A Páscoa, sim, o desejo infinito de fazer a nossos semelhantes felizes. A propaganda do coelho e do chocolate não senhor. Não senhor é para você que leu até aqui. Feliz Páscoa. Sou fingido. Sou escritor. Sou um elemento nocivo à sociedade. Ainda mais àquela que acredita, gesticula, faz força para que os outros aceitem a maior mentira da humanidade. Que somos seres humanos. Que somos seres que desejam realmente uma Feliz Páscoa. Tem também outros felizes. Natal, Ano Novo, Aniversário. Corta! Esse diretor é mesmo fanático. E agora vê o resultado no coitado do cristo revivificado. Olha só, ficou linda essa maquiagem.

- Idiota. Esse é mesmo o meu sangue. Feliz Páscoa.

- Para você também. E no riso farto do pessoal da técnica, ainda emendou que não é que ele é bom ator! Viu a voz que fez no Feliz Páscoa!

Corta!

Cilas Medi
Enviado por Cilas Medi em 01/04/2010
Reeditado em 04/07/2010
Código do texto: T2170874
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