Situação duvidosa

Haviam duas primas muito chegadas. Desfrutavam de uma amizade bonita e sólida, destas que apenas o tempo é capaz de compor e conservar.

Eram, de certa forma, diferentes, possuíam personalidades distintas e eram, em realidade, os testemunhos vivos de que é possível se viver em harmonia apesar das diferenças

Como moravam em cidades distantes uma da outra, adquiriram o hábito de se visitarem, e jamais passavam longo tempo sem se encontrarem Ora na casa de uma, ora de outra.

Como acontece com as pessoas que se tornam íntimas, estabeleceram certos hábitos, que passaram a nortear a rotina do encontro de ambas. Quando se visitavam, ficara implícito que não deveriam levar nada para a casa da outra.

Assim, por anos a fio sempre se entenderam e foram criando seus filhos no convívio salutar desta amizade.

Certo dia, aparentemente sem razão alguma, uma delas ao visitar a outra chegou munida de quitutes inesperados. Havia trazido uma tigela enorme de salsichas e uma quantidade exagerada de laranja, além de um bolo de chocolate, um patê de frango desfiado e um pirex de berinjela ao molho. .

A anfitriã, muito educada e sutil, nada comentou da chegada da outra. Sem manifestar-se, recebeu o que lhe foi entregue e acomodou tudo em seus devidos lugares.

Ocorre que esta, um tanto obstinada em suas convicções, ignorou o que a prima havia trazido e durante os três dias de visita, não se utilizou da salsicha, ou das laranjas, tão pouco do patê e berinjela, nem coisa alguma do que havia sido entregue a ela pela visita. Colocando apenas o bolo na mesa, já que os filhos de sua prima assim haviam solicitado. Eram quatro anjinhos um tanto encapetados, que adoravam divertir-se fazendo as artes mais encantadoras

Por fim, na noite de domingo, que antecedia a partida dos visitantes, a prima que até então se controlara, indagou a outra onde estava a salsicha. Sem questionar-lhe a intenção, comunica que estava embalada para viagem, pronta para que ela a levasse de volta.

Nenhuma palavra a mais foi dita e a anfitriã, distraída com seus afazeres, não se deu conta do que estava por vir.

Sem cerimônia alguma, sua prima abre a geladeira, pega a vasilha que continha as salsichas e se dirige ao quintal.

Eram casas geminadas de um lado e com os quintais paralelos do outro. Assim, a prima em questão abre a vasilha e começa a jogar salsicha para todos os lados inclusive na casa da vizinha. Enquanto assim procedia, mencionava em alto e bom tom:

- Detesto guardar coisas inúteis, e já que você não apreciava resolver de uma vez e nos livrarmos do que está sobrando

Chocada demais a outra sai em disparada para o quintal tentando desesperadamente fazer com que a outra parasse com aquela sandice

Após várias salsichas espalhadas pelos dois quintais, a anfitriã, depois de jurar que iria utilizar-se de toda a salsicha que sobrasse, encerra-se o triste episódio, no mais profundo silêncio.

Os maridos, que estavam na sala ao lado, acompanhavam o falatório sem que estivessem entendendo bem o que se passava. Como depois de tanta conversa agitada perceberam um total silencio, curiosos se dirigem à cozinha e lá chegando a encontra vazia, dirigem-se ao quintal e encontram uma cena atípica

Uma olhando para a outra, sentadas no chão do quintal em meio a infinitas salsichas, estão as duas no maior acesso de riso que eles já haviam presenciado

Nada entendendo do que se passava, ambos sacudiram a cabeça e retornaram a sala comentando:

- Talvez estejamos exigindo demais delas!

Priscila de Loureiro Coelho

Consultora de Desenvolvimento de Pessoas

Priscila de Loureiro Coelho
Enviado por Priscila de Loureiro Coelho em 02/06/2005
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