DA DIFICULDADE DE DIZER ADEUS ....

 
 
 
               Tão difícil quanto dizer porque amamos é explicar por que deixamos de amar. 
 
               A consciência de que o amor morreu surge sutilmente. Por acaso. No meio do nada. Sem nenhum motivo aparente. Sem uma justificativa lógica. Simplesmente aparece. Um dia você acorda e percebe que não foi para ele(a) seu primeiro pensamento. 
 
               Olha-se no espelho e é seu rosto que está ali. Não há mais traços da presença dele(a) em você. Seus olhos brilham sozinhos. Seu sorriso não tem mais aquele ar sonhador e seu corpo não emite nenhum sinal ao pensar nele(a).  Neste momento você sente necessidade de dizer ao outro que tudo acabou. 
 
               Mas, como fazer isso sem ferir, sem magoar? Como encontrar as palavras, formar as frases já construídas em sua cabeça? Como dizer aquele(a) com quem você dividiu sua vida que não há mais um enredo, uma história para ser vivida? 
 
               Como explicar que o amor simplesmente acabou? Não é fácil encarar que amamos, desejamos, partilhamos nossa vida com alguém e, sem nenhuma explicação adequada o amor simplesmente chegou ao fim. 
 
               Como usar argumentos convincentes se até nós desconhecemos os motivos? O outro quer sempre uma razão, um motivo que não temos. Um culpado. É difícil substituir o “eu te amo” por uma sentença de adeus. 
 
               É duro executar a tarefa de partir de uma vida que foi, durante um tempo, a extensão da nossa. Despedir-se de alguém a quem reconhecemos, um dia, como parte de nós. Olhar, sem desejo, para a boca que tanto nos encantou com seu sorriso, suas carícias. 
 
               É difícil encontrar o jeito certo, o melhor momento para contar. Deixar que a brisa da verdade transforme-se na voz da despedida. É neste ponto que se corre o risco de, com medo de ferir, ir ficando e aos poucos desgastando a relação com mentiras, distanciamentos, indiferença. 
 
               Por não termos a palavra, a explicação que o outro quer, precisa ouvir, nos perdemos em silêncios e medos, pois, não somos mais capazes de atender as expectativas do outro e passamos a evitar aquele(a) que foi a razão de nosso acordar mais feliz, de nosso sorriso mais bonito, de nosso beijo mais gostoso, de nossa entrega mais verdadeira. 
 
               Vivemos a catástrofe de não termos nenhuma causa específica para desencadear a tragédia do último ato, a briga, o desamor. E vamos, inadvertidamente, tecendo uma cortina de desculpas, esculpindo muros onde nos escondemos de nós mesmos. 
 
               Quando o amor acaba, por mais difícil e doloroso que seja, é preciso ter coragem de dizer adeus. Não há justiça na despedida. Não há meios de explicar o inexplicável. A relação, quando morre, quase sempre, não renasce. Não há vítimas ou culpados. Apenas duas pessoas que precisam aprender a conviver com um passado em comum, cujo presente é a separação. 
 
               Se isso é justo ou não, quem haverá de saber? As coisas do coração simplesmente são. 
 



                        

Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 27/02/2010
Código do texto: T2111298
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