CRENDICES & SIMPATIAS

CRENDICES & SIMPATIAS

Que é a vida terrena senão um dicionário de crendices e simpatias? Sabendo, embora, que o livre arbítrio norteia nossos atos e pensamentos, temos um calendário de crendices, uma ladainha de simpatias e um rosário de superstições, entre as quais flutua o dia-a-dia racional de cada um. Mesmo com a convicção de que nada disso impede a realização de nossos atos, surpreendemo-nos em não fazer tal coisa numa sexta-feira, para se dar um exemplo. Mentimos para nós mesmos que é uma tradição ou é de praxe que não se faça a barba numa sexta-feira normal, só a fazendo nas sextas-feiras santas, porque os antigos diziam que é para não ter dor de dentes; que não se passa por baixo de uma escada podendo passar pela frente dela; que, se a gente vê um gato preto de manhã logo ao levantar, é necessário tomar cuidado com as pessoas porque uma delas é provável que esteja mal intencionada com a gente naquele dia. Tantas são as criações da mente humana que se fizeram folclore, quantos sistemas diferentes da cultura dos povos que formam a humanidade. 0 curupira, o saci-pererê e o Boitatá, fazem parte de um séquito de entidades, cujas múltiplas lendas enchem livros em prosa e verso e cujos textos são representados artisticamente em palcos e no cinema.

Outra coisa é a crença em assombração. Quem não sente um frio percorrer-lhe a espinha dorsal; fica com a pele coberta de pipoquinhas e, ata, brotoejas, ou sente os pelos do corpo todo eriçarem-se, quando pensa que viu uma assombração? Seria, no entender das mais imaginativas mentes, uma “alma penada” que lhe aparece em busca de auxílio ou, quiçá, de vingança. Seriam almas do mundo invisível que se materializaram. Essa materialização a que alude a crença popular pode muito provavelmente acontecer sob diversos aspectos, mas, não assim gratuitamente.

Maria – a mãe de Jesus – segundo o credo católico, apareceu ao povo de Lurdes e de Fátima e ainda em outras ocasiões, com o fim de exortar a humanidade à prática do bem. Segundo o espiritismo, isso está dentro da normalidade, em casos esporádicos e inerentes a determinadas pessoas que têm o dom da mediunidade, que o povo chama de “videntes”.

Na maioria das vezes, porém, leva-se “aquele susto” porque, no lusco-fusco, entre a sobra e a luz, as aparições sob imagens fantasmagóricas, são apenas sombras provindas da lúrida luz da lua, que incidem sobre objetos e movem-se por força da brisa. Outras vezes, estão em tal posição que aparentam animais ou pessoas – os propalados fantasmas que apavoram os menos orientados no assunto. Poderia contar mais de dúzia dessas coisas que aparentam ser mas não o são na verdade. Na minha curta/longa vivência perpassaram-me o caminho ou o dos meus amigos, inúmeras “histórias verdadeiras”, mas que, vistas à luz do sangue frio, não passam de coisas naturais que, no escuro, nelas vemos almas penadas ou qualquer coisa que quisermos que sejam. Os mais mentirosos ou “inventadores” desse tipo de fantasias, viram mulas sem cabeça “soltando fogo pelos olhos” e outras mentirinhas mais apavorantes. Outros viram ovelhas caminhando por cima da folhagem das árvores (no caso de um parente meu) quee descarregou-lhes em cima todas as balas do seu revólver quando, à luz do outro dia, viu que eram sombras de grandes folhas que ladeavam o trilho no meio de um capão de mato, batidas pelo luar e mexidas pelo vento e... com seis furos de balas nelas.

E é nessa imaginação medrosa da ondas do sobrenatural que viajamos todos nós, posto que não conhecemos algumas das coisas relacionadas ao mundo invisível e suas manifestações. Com um pouco de empenho e interesse pelo aprendizado, os livros espíritas podem resolver um monte dessas nossas dúvidas e crendices. Há muitos mistérios entre o céu e a terra, mas todos eles têm uma fonte natural e, por isso, são explicáveis à nossa razão.

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 19/02/2010
Código do texto: T2095179
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