O desespero desnecessário do homem

As pessoas genuinamente felizes são muito mais raras do que imaginamos. Nossos semelhantes afivelam nos semblantes toda uma variedade de máscaras sorridentes, ou de toda uma variedade de máscaras: máscaras sorridentes, ou de aparência sábia, animadas, máscaras de sucesso mundano, tudo na tentativa frenética de se convencerem, bem como aos outros, de que tal comédia é verdadeira. Mais cedo ou mais tarde, entretanto, a representação tem de chegar ao fim, deixando o ator sozinho e cheio de medo, sobre seu pequenino palco.

A figura do carente também é digna de nota (e de pena). De estado emocional transtornado e comportamento efusivo, ele vai à busca de uma mulher para dar e buscar afeto em doses absurdamente excessivas, sem se dar conta de que seu problema seria resolvido com uma ida ao pet shop.

O que deseja o homem? Ele só percebe aquilo que quer. Deseja ser livre. Livre de quê? De seus pesares e sofrimentos, dos desejos compulsórios, do medo que sente quanto ao que os outros lhe possam fazer, de sentimentos secretos de vergonha e culpa acarretada por sua loucura passada.

Deseja a autoliberdade, mas não sabe o que seja, nem onde encontrá-la. Ainda assim, procura com ânsia, e quase sempre procura nos lugares errados. Tomado de desalento, diante da tarefa de encontrar a agulha no palheiro, nem mesmo percebe que está procurando no palheiro errado.

Reconforta-se, em tom esperançoso, dizendo a si próprio: “Bem, amanhã será diferente.” Mas tal não acontece, ele bem o sabe. Sabe que olhará para trás e se encontrará no mesmo desalento de antes. A única transformação será em alguns detalhes das cercanias externas, mas aquilo continua sendo a mesma velha casa mal-assombrada.

E o que acontece se voltar para contar aos demais sua descoberta maravilhosa? O que acontece se explicar que seus sofrimentos resultam das ilusões que alimentam que existe um mundo inteiramente novo lá fora? Receberão bem essas suas palavras? De modo algum. O quê! – e teriam de deixar de lado suas suposições cômodas de que já sabem o que é verdadeiro? E contrariar seus modos egoístas? Não! Escarnecerão dele, ficarão com raiva dele, chamá-lo-ão de imbecil iludido – e continuarão imersos em seu desespero secreto.

Izan Lucena Lucena
Enviado por Izan Lucena Lucena em 16/01/2010
Código do texto: T2032604
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