O rito da purificação do caminho de São Luiz do Purunã.

Os braços estavam abertos representavam a crucificação, olhos cerrados, o forte vento a fazer dançar os cabelos, compridos e castanhos relembrando bandeirolas em mastros.

Sorriu ao associar ao descobrimento.

Bastava-lhe estar vivo.

O açoite da camiseta, amarrada displicente sobre o quadril.

A natureza explodia vida e ele absorvia sua energia.

A oração era murmurada, o sentimento de nivelar o seu volume executava um arrepiar crescente. Algo que subia, tomando espaço até carregá-lo,explodindo o cérebro de intensa luz, fachos de memória com imagens e cores.

Idéias a muito idas.

Palavras perdidas.

As nuvens vindas de sudoeste amontoavam-se como crianças a correr na saída ao recreio, seus gritos faiscavam e depois brilhavam em energia frenética, derramada como este céu assim, sem sol, mas um vislumbre de azul entre aquele escuro com nuvens brancas e cinzas.

O vento agora assoviava os olhos abriram ao alvoroço, intimamente encorajava-se, sentia o próprio corpo, o membro estava em pé, ouriçado, duro que doía, como buscando um desafio à torrente natureza.

Não se afastou, os relâmpagos brilhavam pero, raios atingiam o solo, em ruídos pavorosos,

Uma rajada de água refestelou, rebelando-se contra o vento, gotas que apagavam as grandes labaredas de fogo que incendiava ele por dentro.

Os elementos, sua mente gritou.

O fogo na sarsa ardente.

Elementos dispostos sobre o tudo em um só conjunto. Os sinais poderosos de Deus.

Tomou novamente a concentração e falou com Deus...

Seu corpo agora despojado de tudo estava completo, a última peça que lhe cobria o vento levara em dobras bravias de ondas circulares, mas a matéria agora a ele não importava, entregava-se ao rito, se colocava no côncavo da gigante mão de Deus. Os murmúrios avançavam rapidamente tentando superar cada vez mais a cadência dos jatos d’água, sua voz ganhava alturas.

E assim ficou, abria sua vida, o seu corpo ao criador, o chicote do tempo a marcarem sua pele, assumia seus defeitos, assumia seus erros, pedia por perdão, das graves às ínfimas, ali nu ao vento sob a chuva forte sobre a Serra de São Luiz, depois de galgar toda ela em extrema concentração naquele dia que lhe apresentara a vida, confessava-se e as respostas eram raios e relâmpagos, descargas imensas que atingiam o espaço rumo ao chão ferindo a terra naquele campo que se agigantava pela planície, Campo Largo.

Ressoava salmos e louvores, uma adoração emergente.

As pernas tremeram, uma força como uma mão pesada arrebatou-lhe e derrubou-o de joelhos ao chão, sua pele eriçada pelo combate.

A respiração cansada pela batalha, sentiu o poder sobre si, as pernas abriram-se e puxadas para trás lhe forçaram ao chão deitado com a face encostada ao solo sobre o pedregulho misturado com as águas que queriam descer a Serra, os braços escancararam em enorme cruz, a energia dos céus estouravam aqui e acolá, espasmos ao corpo, o falo ereto encaixara-se na lamacenta mistura como a planejar um ato de sexo extremo ele humano e ela deusa terra, ao chão.

Sentia, um peso que debruçou sobre seu corpo, sentia.

Era o tempo nele a ganhar seus cantos e procurar segredos e ele sobre a sagrada terra, ejaculando inconsciente pela energia tamanha, sem culpa e tampouco profano.

Posto assim, humilde, arrebatado e ainda em oração recebeu a divina aceitação, não era só as intempéries que lhe surravam algo dentro de si, rasgava a carne, fervia seu sangue num rito de purificação, dizia palavras, soprava-lhe incansavelmente imagens e atos, fatos e tatos, sentia em si tudo, naquele rito de purificação.

__Encare a você mesmo.

E tomando de coragem, vencendo a derrota que lhe tomava primeiro puxou as pernas, levantou o quadril e o peito absorvendo aquela força vinda da terra, da água, do ar e daquele fogo que lhe fervia as veias, os olhos abertos, foi aos poucos ficando em pé.

A água lhe lavava da cabeça aos pés.

__Meu filho pródigo retornou...

Neste momento os relâmpagos tomaram pela última vez o largo céu, o vento tendo aquele espiral energético como doma foi ampliando e as nuvens temporais dispersaram-se deixando um doce azul cobrindo aquele terreno tão próximo daquele céu que o homem parecia estar dentro dele e ter sido tomado em exaltação com o largo sorriso aos lábios, as lágrimas a despencarem pela face, e o corpo agora purificado aos poucos ser secado com aqueles macios raios de sol, de braços abertos, corpo nú a receber lambidas suaves do vento agora tão cúmplice seu.

Era uma tarde aquele dia.

E este caminho sempre que preciso ajeito seus momentos e para lá retorno.

É. É esse homem sou eu.

É. Este rito passei sobre a Serra, ao fim do caminho de São Luiz.