Crônica de Final de Ano

Neste final de ano escrevi muitas reflexões sobre fé, amor espiritualidade.Acredito que esse procedimento é devido ao momento que eu estou vivendo- muita sensibilidade- foi isso que me deu inspiração para essa procura e me dedicar as coisas do espírito.A sensibilidade acompanhada de algo que não conseguimos entender por uma observação puramente racional.Pois é, até quando eu estava voltado para a compreensão científica da vida, deparei-me com situações sublimes.Encontrei uma frase, atribuída a Einstein,que diz:” O homem que não possui os olhos abertos para o misterioso, passa pela vida sem ver nada”.E isso tudo é um espécie de reforço para fortalecer a minha fé.Um tipo de fé, como eu já escrevi em outra crônica, um tanto diferente da minha religiosidade dos meus tempos de criança.Naquela época, eu acreditava em tudo que o pregador afirmava.Sem questionamento.Embora aquelas palavras tão duras me deixassem assustado, fragilizado, sem encontrar uma explicação plausível.Por que existe um inferno, onde se vai penar eternamente? Deus é um menino. Eu tinha esse pensamento. E então por que um castigo tão cruel? Nem as piores criaturas mereciam tamanha punição,o fogo eterno do inferno.E como sou da zona rural, as pessoas do campos têm muitas histórias sobre essas duas condições: céu e inferno.Havia um homem naquela localidade. Um exímio contador de histórias que todos achavam que eram inventadas, embora, tivéssemos sempre a curiosidade de ouvi-las. Ele falava sobre malasombros, almas penadas e até mesmo do inferno.Ele garantia que foi ao inferno. Lá , encontrou-se com mulheres bonitas, muito luxo, muita festa. Mas também passou por muitos horrores. Tachos pegando fogo, cheios de pessoas gritando de dor. Um cheiro de enxofre.Enfim, aquela paisagem infame que nos era descrita como o inferno blíbico.E todos estavam sujeitos a enfrentar aqueles sofrimentos definitivos. Crianças, jovens, adultos, todos.Muitos não levavam o contador de história a sério.Riam dele. Eu,sempre assustado, ficava triste, revivendo aquele quadro dantesco que aquele homem simples pintava com tanta competência.E ainda havia os beatos , os andarilhos místicos, essas figuras tão comum no interior do nordeste, com seus cabelos e barbas enormes, fazendo previsões apocalípticas.Esse panorama, às vezes desolador, às vezes inspirador,às vezes belo.Eu me sentia no centro do universo contemplando toda a história humana.

O campo do nordeste, na minha visão infantil, era o único lugar sem pecado.Estávamos livres das punições eternas, porque éramos criaturas santas.Era ali onde haveria o verdadeiro sal da terra.Portanto, os meus medos não tinha razão de ser.E o tempo passando, vêm as mudanças.E aquelas situações da infância transformam-se em lendas diante da realidade que a vida adulta apresentou-me.Mas, são essas lendas que aquelas criaturas, mesmo com todas dificuldades da vida, como a pobreza massacrante, utilizavam para demonstrar a sua fé. Às vezes parecia loucura.Às vezes parecia sabedoria. Mas era bonito.E hoje, a minha fé é exercida de forma diferente daquela da infância.Uma fé racional. Estou feliz. Eu acredito em Deus.Deus nos abençoe.

Soleno Rodrigues
Enviado por Soleno Rodrigues em 31/12/2009
Reeditado em 22/02/2012
Código do texto: T2004824