BICHO DA SEDA. ... UM DESAFIO AO HOMEM ... QUE BRINCA DE SER DEUS

BICHO DA SEDA UM DESAFIO AO HOMEM QUE BRINCA DE SER DEUS

Na sala de aula ao me deparar com a matéria sobre o bicho da seda, encantei-me com a beleza mágica da natureza. Com toda ingenuidade de criança logo imaginei, quando crescer, vou criar esse bicho. Tornei-me adulto, casei-me adquiri minha pequena propriedade rural. E deixei a vida me levar.

Um belo dia preocupado com problemas na escola, enfrentados pelos moradores de um povoado vizinho à minha propriedade, dirigi-me à sede do nosso municipio, a procura do prefeito municipal, na tentativa de ajudar aquela comunidade. Além de ter sido muito bem recebido em seu gabinete, recebi um convite a uma viagem no interior de S. Paulo promovida pela prefeitura.

Interessado em implantar alternativas na melhoria das condições de vida no meio rural, nosso prefeito levou-nos pessoalmente. Um grupo de onze produtores rurais, e eu, a cidade de Duartina, considerada na época como capital da seda. Lá tomamos conhecimento da sistemática desta encantadora magia da natureza. A ciência e técnica de criação, a demanda de mercado, sua utilização em diversos seguimentos mercadológicos.

O fio de seda é utilizado em grande escala pela indústria eletrônica, pela aeronáutica, inclusive nos pára-quedas, por ser o fio sólido mais resistente, e por não conter emendas.

Entrei no negócio, plantei uma área de amoreiras, e construi as instalações necessárias.

E assim no decorrer da década de setenta, século passado, meu sonho foi realizado. É incrível e belo o trabalho efetuado pelo bicho. Da eclosão dos ovos até o casulo são trinta e seis dias. Divididas em seis etapas. Ou seja, na linguagem comum seis idades. Na primeira idade, para cem gramas de sementes (ovos) germinados, equivalente a trezentas mil larvas, apenas uma cesta de folhas mais tenras da amoreira, por dia, durante três dias é suficiente para alimentá-los. Picadas as folhas, no formato da couve. Esta a primeira idade. Nesta fase ele entra em estado de dormência. Antes ele tece uma pequena tela de seda sobre seu leito fixando nela suas patinhas. Dorme por vinte horas. Ao acordar ele rompe sua pele na parte superior (cabeça) com as patinhas amarradas na seda, livra com facilidade de sua pele, a larva que há três dias, media dois milímetros, já, com um centímetro, vai consumir mais folhas, podendo ser mais amadurecidas e cortadas em maior dimensão, ou seja, mais largas. Esta é a segunda idade. Que já ocupa um maior espaço no incubador, e que com mais três dias vai passar pelo mesmo processo de dormência e acordar na terceira idade, em ponto de ser transferidas para o galpão, onde receberão sobre os extratos em que foram colocadas, as galhas de amoreiras de quarenta centímetros e cortadas cerca de um metro acima do chão. Mais três dias, outro estado de dormência se repete, entrando na quarta idade, recebendo as galhadas já mais maduras. Mais quatro dias. E mais um estado de demência, que depois de concluído, a colocará na quinta idade. A fase mais trabalhosa, exigindo maior assistência por ser a que mais consome. Muitas toneladas diárias. Este é um período mais longo podendo estender até sete dias dependo da temperatura ambiente. Após esta ultima fase é hora da busca de pontos de apoio para a construção do casulo. A larva que se tornou amarela e transparente recebe os bosques, um a espécie de escova, com cerca de dois metros de comprimento por trinta centímetros de circunferência. E que até então deverão ter recebido uma desinfecção com formol se possível em local fora do galpão. A tendência do bicho a essa altura é subir. Assim que todos ocupam seus lugares nos bosques, chegou à hora de suspendê-los. Dois fios de arames paralelos afixados pelas travas recebem os bosques. Já livre das fezes que foram expelidas antes da subida, é hora de se livrar da urina, processo efetuado uma única vez, durante a vida da larva. As camas ficam tão molhadas como se passadas por um violento temporal de chuva. Com dois dias de trabalho ininterrupto, entre dois a dois mil e quinhentos metros de fio em uma única perna condiciona o casulo. Após, a larva que media cerca de dez centímetros, exausta pelo trabalho, enrugado e reduzido a mais ou menos dois centímetros, vai descansar e aguardar a primeira transformação. Mais três dias, uma linda crisálida está formada aguardando o momento da grande metamorfose do seu ultimo estágio de borboleta. Embora não seja tão linda como tantas coloridas que enfeitam a natureza, mas uma bruxinha branca, que após ser fecundada pelo macho, vai desovar cerca de dois mil e quinhentos ovos, morrendo em seguida, assim como o macho que após tê-la fecundado também morreu.

Este é um dos mais belos caprichos da natureza, um desafio aos homens que gostam de brincar, de ser Deus, mas que jamais conseguiram transformar em seda as folhas da amoreira senão através desta maravilhosa lagarta... Que há três mil anos antes de Cristo, já esnobava em luxuosos palácios, vestindo a granfinagem, de soberanos e nobres!

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 11/12/2009
Reeditado em 11/12/2009
Código do texto: T1973049
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