CRÔNICA PARA O PADRE TICÃO

Hoje eu quero falar das coisas que não tive na infância: um pai, uma mãe, uma bicicleta... Tive muitos irmãos, que não sei onde vivem (se vivem!), nem eles sabem se ainda estou vivo, onde moro, mesmo porque eu não tenho morada. Não tive escola, digo nunca frequentei uma escola, o que sei aprendi aqui, onde passo o tempo aprendendo, que a vida não é uma droga, como muitos pensam e se afundam nas drogas. Meu vício é escrever (não sei se escrevo corretamente, pois como disse nunca frequentei uma escola), e o que escrevo, aprendi com um padre, que em troca pediu que eu escrevesse estas palavras sobre a vida. Escrevi e guardei. Só hoje depois de tanta coisa que já passei na vida, que já escrevi, resolvi mostrar isto e nem vejo mais o dito padre, nem escrevo mais, pois parece uma coisa: toda vez que estou com a cabeça cheia de ideias a barriga está vazia. Agora já tenho bicicleta, não é da moda, nem nova, mas serve. Pai, não sei se ainda quero, e mãe, tenho tantas e tive outro tanto. Não me deram muita coisa, mas me deram uma coisa que vale muito: AMOR! E com esse amor, compreensão e uma mão a me guiar para o caminho do bem.
Bem! Não sei por que não consegui as coisas que eu queria. Mas, o que é que eu queria mesmo? E se eu tivesse conseguido, estaria feliz? O que é felicidade? Me sinto bem aqui debaixo desta mangueira. Porque aqui faço minha comida, aqui durmo, aqui escrevo... Aqui vivo(?). Gosto de ficar aqui, porque esta mangueira, me protege, é como se fosse minha mãe, irmã, madrinha...
E além de me suportar, atura também o maltrato dos predadores, a chuva forte, o sol quente... e, temos a mesma mãe!
A NATUREZA


S. Paulo, 03/06/2005

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