Passou Rápido – Sonho de 1985

     Escrevi esta crônica descrevendo um Sonho que eu tive, em 1985. Descrevo aqui, toda aquela vivência que parecia realidade. Quando acordei, ainda lembrava o nome da moça. Corri. Em cima da geladeira havia um papel e um lápis. Para não me esquecer daquele momento, anotei o nome da personagem. Sabe, quando sonho com nomes de pessoas, dificilmente lembro. Por isso tomei a precaução para aquela anotação.

     A viagem era longa. Eu não sabia para onde estava seguindo. Estava viajando para destino ermo. Estava com a cabeça embaralhada. Resolvi sair por aí, a fim de desanuviar a mente.

     Viajei muito... Perdi a noção do tempo e do espaço percorrido. Quando dei por mim estava numa cidade desconhecida. Não conhecia ninguém.

     O medo começou a tomar conta de mim. O pavor de estar sozinho! À medida que o tempo passava, meu desespero aumentava. Gradativamente. Tentava me acalmar. Não conseguia. Fiquei horas e horas naquele impasse. Quando achei que não havia mais jeito, surgiu no horizonte uma luz. Luz em forma feminina. Angelical. Uma mulher de rara beleza surgiu a mais ou menos um quilômetro de distância. Notei que quando mais ela se aproximava, a sua aura de luz aumentava, paulatinamente. Um detalhe curioso me chamou a atenção: Aquela luz aumentava, mas não chegava a ofuscar os meus olhos. Quando ela chegou perto de mim, fiquei extasiado com a sua beleza. Fitou-me profundamente e disse-me:
     — Não se desespere, estou aqui para lhe fazer companhia.

     — Companhia? — indaguei como uma pessoa como eu que sempre fui um derrotado no mundo, estaria merecendo tão encantada presença?

     Ela não respondeu nada. Como sinal da resposta, ela afagou os meus cabelos com ternura.

     Parecia que eu já conhecia aquela jovem de muito tempo atrás. Contatei o meu arquivo mental como se contata um computador desgovernado por um ataque viral.      Apesar de toda tentativa, não consegui detectar nenhuma informação. Mas aquela presença era gratificante para mim. Não importava o esquecimento cerebral, o que importava sim, é que eu estava recebendo daquele anjo à energia necessária que eu estava precisando para continuar a vivência hodierna.

     Aquele ser incomum na nossa vida quotidiana acariciou-me novamente. Senti-me curado das dores carnais. Todos os problemas rotineiros desapareceram instantaneamente. Perplexo, naquele momento consegui dizer-lhe mais algumas palavras:

     — Quem é você? De que lugar você vem? Como você conseguiu olhar para
mim, um pecador do mundo?

     — Sou Guadalupe. Vim de uma esfera em que você ainda está caminhando para chegar. Eu também já passei pelos caminhos que você ainda está percorrendo. Acompanho você há muito tempo. Já nos encontramos e nos desencontramos muitas vezes. Só que você, como sempre, envolto pela carne, não percebe minha presença. Mas sempre estou ao seu lado.

     Tentei proferir algumas palavras a mais, mas não consegui. A viagem de volta foi muito rápida. Voltei novamente à vida comum. Aquele nome e aquela imagem ficaram gravados em minha mente.
 
Já faz mais ou menos dez anos que estou esperando para um novo encontro inesquecível como aquele. Aquele momento pareceu o instante em que passou um cometa pela Terra. Agora só resta esperar mais um tanto de anos para que ele passe de novo.
 
Que eu tenha o privilégio de vê-la outra vez!


     Procurei, ansioso, nos meus momentos líricos
     A minha mente captava o tom suave,
     Da voz aveludada, vinda duma nave:
     — Quem sabe, tu viestes d´algum lugar empíreo?

     Ah! Com toda a minha vivência empírica,
     Imaginei tua mobilidade de ave
     Porém a visão presa com entrave;
     Não pude cantar o meu simples idílio.

     Tua presença tomou conta da minha mente,
     Tal quais as letras góticas em tom luzente;
     Meu pensamento voa em estado de brilho!...

     — Meu Deus, como te ver ao nascer d´aurora?
     Estas divagações vãs medem as horas,
     Só nas quimeras, visualizo teu brilho!...


     Ribeirão Preto, 05 dezembro de 1995
Machado de Carlos
Enviado por Machado de Carlos em 25/11/2009
Reeditado em 09/11/2011
Código do texto: T1944113
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