De Malas Prontas (EC)
De Malas Prontas (EC)
Ele encostou a mala na entrada da casa e olhou o céu.
De noite, sob a luz tênue da calçada, nuvens esparsas flanavam como seres.
Nossas vidas são muito curtas, nossas esperanças muito enlevadas.
Por um momento, o que desfilava na sua frente não eram chumaços de nuvens mas imagens do passado que tiveram juntos.
Onde ela estava?
Ele encolheu os ombros.
Como nunca, sentia-se satisfeito pela clareza dos sentimentos. Teria passado a vida toda procurando, procurando, muitas pessoas sucumbem nessa busca.
Disso ele fora poupado. Já havia encontrado.
Pouco continha a mala. Um par de camisas, um par de calças, outras roupas miúdas. Pouco cabe numa mala.
Nossas vidas são muito curtas, nossa missão muito grandiosa.
Procurou por ela mais uma vez. Onde estava?
Outro dia mesmo pegara em sua mão, sentira seu abraço. Tentara explicar para ela, durante os tempos em que não dividiram compreensão mútua mas interesses mútuos, que precisavam de muito pouco para o exercício pleno do amor. Ela parecia não estar presente.
Dez anos é muito tempo, pensou ele, aceitando o tempo como quem aceita um copo de água gelado num dia quente de verão.
Sentiu o peso da mala, leve como a brisa, fechou a porta atrás de si, nossas vidas são muito curtas, nossos destinos surpreendentes.
Desceu a rua assoviando uma antiga canção, certo, tão certo como nunca, de que precisamos de muito pouco além de afeto.