O PREÇO DE UM SONHO = EC

Mercedes sentou-se na beirada da cama e olhou com uma ponta de tristeza para as duas malas ali no chão.

Estava realizando um sonho de muitos anos. Sair da casa dos pais e ir morar sozinha.

Os pais seguraram enquanto puderam. Não podiam entender porque ela queria sair da casa da família onde nada lhe faltava para ir viver só, do mesmo modo que não entendiam porque ela queria que trocassem os móveis antigos, tão bons de madeira de lei maciça, bem feitos como não se encontra mais, por outros mais modernos, mas de qualidade muito inferior

Com muita dificuldade comprara um apartamentozinho financiado a perder de vista e mobiliara a seu gosto. Ficara lindo! Agora ia poder receber seus amigos mais à vontade, fazer o que quisesse sem dar satisfação para ninguém.

A irmã adolescente que dividia o quarto com ela chegou correndo, jogou um punhado de revistas no chão e atirou-se na cama sem sequer tirar os tênis dos pés enquanto ligava a televisão no máximo.

- Guarde essas revistas! Não ponha esses pés sujos na cama! Abaixe esse som, Clarinha! – exclamou, pensando que era pela última vez.

De agora em diante o quarto seria só da irmã e ela podia fazer o que quisesse sem ninguém para implicar.

Será que a Clarinha ia sentir falta da irmã implicante?

E ela, será que ia ser feliz longe da irmãzinha bagunceira?

Dizia para si mesma que estava tudo bem, que podia voltar à casa dos pais quando quisesse, até de mala e cuia se fosse preciso, mas não podia deixar de sentir um aperto na garganta.

A mãe entrou no quarto. Já tinha dito tudo que tinha para dizer, brigado tudo o que tinha para brigar e chorado tudo que tinha direito.

Agora tinha que ser forte. Compreender que a filha crescera e que queria experimentar as próprias asas. Não se achava no direito de tentar impedi-la.

-Tudo pronto? Vamos, então. Eu ajudo a descer as malas.

Olhou para a irmã sem saber o que dizer. Até parecia que ela ia para outro planeta e não ali mesmo a duas quadras de distância.

Por um momento teve ímpeto de desistir de tudo, de continuar a ser como sempre fora, mas sentiu que já era tarde para isso.

A mãe já pegara uma das malas e se encaminhava para a escada..

Pegou a outra e acompanhou-a.

Não teve coragem de aproximar-se da irmã. Disse de longe:

- Tchau, Clarinha!

- Tchau!- respondeu a menina sem sequer tirar os olhos da televisão.

Este texto faz parte do Exercício Criativo - De Malas Prontas.

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Maith
Enviado por Maith em 16/11/2009
Código do texto: T1926512