O ARAUTO

Festa geral em Porto do Castelo logo pela manhã de segunda feira.

Essa pequena vila a beira mar, fica distante de tudo e de todos. Sua fama, vem do bom pescado, que os caminhões vem buscar ainda pela madrugada dia sim...dia não.

Mas nesta segunda em especial, existe um misto de alegria, euforia e talvez até tristeza, estampada em alguns rostos.

O padeiro está feliz....a moça da varanda mais ainda...a dona da quitanda...nem tanto...mas de uma maneira geral quase todos estão acometidos de uma ansiedade nada discreta.

Nem o barbeiro conhecedor de tudo e de todos, consegue disfarçar a necessidade de aumentar seu conhecimento da vida alheia, como todo bom fofoqueiro, precisa de subsídios.

Não é festa da Padroeira do lugar, não é aniversário da cidade, mas de alguma maneira, existe uma oficialidade não oficial e sim oficiosa.

Geralmente é lá pelas treze horas que dá-se o evento, pois é quando surge pela rua principal não ornamentada, embora merecesse, o cortejo de um veículo só....uma simples motocicleta antiga.

Quando o ronco anuncia-se ao longe, todos da vila já estão a postos frente à suas casas quase em estado de torpor.

Ei-lo que chega envolto à uma nuvem de areia, trazendo boas novas, novas tristezas ou simplesmente não trazendo nada.

É o arauto das palavras distantes.....é o Carteiro.

Alguns se decepcionarão, como, por exemplo, a moça da varanda, que desta vez não receberá notícias do namorado distante.

O padeiro com certeza ficará feliz, pois o filho que estuda longe avisa que poderá vir nas próximas férias.

A dona da quitanda, também não recebeu resposta de uma carta enviada aos pais e assim como muitos outros moradores, disfarçará sua decepção... é preciso seguir em frente.

O barbeiro, nunca recebe nada, pois jamais saiu dali, nem tampouco sua família, mas parece pactuar com alegrias e frustrações, pois terá assunto para os fregueses até a próxima vinda do carteiro.

Sim...mas esse transportador parece amoldar-se a cada rosto na hora da entrega, absorvendo cada situação e de acordo com cada uma tem sempre a palavra adequada, seja para exaltar a alegria do momento, seja para confortar a quem necessário com um abraço, um tenha esperança ou um simples aperto de mão.

Depois, na última vendinha da rua, para, entra, cumprimenta o dono, pede um refrigerante, finge que paga, mas ao invés disso, entrega uma carta da amante, que deve retornar na próxima semana.

Sai, sobe em sua moto, deixa outra nuvem para traz, e some.

É a nuvem da esperança, que só se dissipará na próxima segunda.

pctrindade
Enviado por pctrindade em 12/10/2009
Código do texto: T1861491