A i n d a N ã o S e i

Esta minha estória não é triste nem alegre; é apenas uma estória, uma simples estória de uma pessoa - eu - simples, mesmo quando está todo complicado, simples e complicado, apenas isto, não sabe - eu - o resultado de tudo isto, continua, assim mesmo, como se ainda morasse no interior, como se ainda fosse aquela criança lá do passado, passado tanto tempo, tempo indefinível, indefinível sensação, sensação estranha, estranhos acontecimentos, sentimentos que nunca tive antes, vontade de brincar, de novo, com meus filhos, mesmo sem tempo, tempo alucinado, tempo de assistir televisão, necessidade, urgência de saber as notícias, pra quê, pergunto, interrogo, o policial que existe dentro de mim, justiça com as próprias mãos, só escrevendo, fantasio demasiado, desmaiado, sonho com realidades impossíveis, assim, muito calmo, valente, as duas estradas, sem escolher, vou nas duas, de opção em opção, não faço nada, como o título, não sei ainda, o quê?

Pessoas morrem nos noticiários, morrem aqui na esquina, lá no Morro do Alemão, em qualquer lugar, tem o homem que mata, tem a mulher, tem as catástrofes naturais, tem as doenças, tem e tem, tem os animais, tem as pragas, tem os venenos, tem os acidentes, tem as colisões, tem os aneurismas, tem os ataques, tem os vícios, tem as intempéries, tem as alucinações, tem de tudo, mas ainda não sei, o quê?

Eu já morri, só nesta semana, umas dez vezes, de todo jeito, de faca, de tiro, de doença, de raiva, de tudo, de ciúme, de inveja, de tédio, de morte morrida mesmo, de todo jeito, do jeito que eu nunca tinha imaginado para morrer, mas o certo é que ainda não sei, o quê?

Tá vendo, comecei a falar de uma simplicidade que nunca existiu, nem na minha infância, nem quando eu morava no interior, era tudo uma grande mentira, agora sei, mesmo ainda não sabendo, que tudo isto era apenas uma encenação sem graça, sem sentido nenhum, que força a mente a criar situações mais desastrosas que as do dia anterior, prontas para serem esquecidas no dia seguinte, mais e mais informações na televisão, sem tempo para brincar com meus filhos, chego cansado do serviço, quero mais é tomar uma dose bem forte de anestésico para esquecer o massacre, a chacina, no centro e na periferia da cidade, o transporte, o suor, a cara que levou tantos tapas, e ainda deu a outra face, mesmo misturando todos os sabores, não sente gosto nenhum, não tem graça nenhuma esta estória, que não é engraçada de propósito, nem no início, ainda não sei, o quê?

Já me perdi, já perdi o fio da meada, já perdi tudo, não achei nada, tento relembrar, não consigo lembrar, tomo remédios, vou ao analista, ele, o remédio, não resolveu meu problema, o analista me ouve, ele me entende? Ainda não sei.

Com o tempo, a idade, tudo se resolve, as loucuras serão esquecidas, as mortes, tudo, todos, os problemas, são passageiros, a vida é passageira, isto tudo, não tem finalidade, não tem sentido, não tem propósito, apenas o exercício dos dedos no teclado, sem nexo, apenas escrever, pra quê tudo isto, ainda não sei. Me desculpem.

florencio mendonça
Enviado por florencio mendonça em 05/10/2009
Reeditado em 06/10/2009
Código do texto: T1850071
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