A árvore de natal e as lâmpadas queimadas

Sicrano chegou cedo ao trabalho. Ao entrar, percebeu que a árvore de natal já havia sido montada e decorada. Parou para observá-la. Era uma árvore grande, com cerca de dois metros de altura, decorada com bolas coloridas e cintilantes, laços vermelhos nos galhos, pequenas figuras penduradas, como a flutuar: renas, bonecos de neve, anjos, e uma enorme e faiscante estrela dourada no topo, de onde descia uma fileira de minúsculas lâmpadas, cujas luzes piscavam sem parar.

Muito bonita, pensou ele. Já ia se dirigindo para sua sala quando algo lhe chamou a atenção. Algumas das pequenas lâmpadas estavam queimadas. Que pena, uma árvore tão bonita. Neste momento Beltrano entrou e logo comentou: - Que beleza que ficou a árvore de natal. Então Sicrano falou: - Sim, mas já percebestes que algumas lâmpadas estão queimadas? Beltrano de imediato procurou e achou-as sem dificuldade. - É verdade. Que pena, parecia tão harmoniosa... Sicrano foi para sua sala e Beltrano voltou para pegar algo que havia esquecido no carro. Lá chegando encontrou Fulana e, antes de ouvir-se dando um bom dia, já foi comentando: - Preste atenção na árvore de natal. Tem uma porção de lâmpadas queimadas. Uma falha imperdoável. Fulana já entrou na empresa curiosa, olhou para a árvore e foi logo procurando as tais lâmpadas que pareciam querer enfear a decoração. Ah, lá estavam elas, que atrevidas. Foi rapidinho para sua sala. Precisava comentar aquilo com alguém.

Mais tarde, na confraternização da empresa, pequenos grupos conversavam e teciam críticas aos que deixaram uma árvore de natal tão lindamente decorada, permanecer com aquelas feias lâmpadas queimadas. Assim não conseguiram prestar atenção no discurso emocionado do gerente, agradecendo a generosidade de alguns funcionários que trabalharam até bem tarde para montar toda a decoração natalina, principalmente quando um deles chegou a queimar as mãos ao levar um choque enquanto colocava as pequenas lâmpadas na árvore.

Sicrano, Beltrano, Fulana e alguns outros não tiveram sensibilidade para enxergar além da visão limitada e materialista de seus olhos. Diante da linda árvore ornamentada, viram apenas as pequenas lâmpadas defeituosas, ainda que cercadas de tanta beleza. Não puderam, pois, desfrutar do conjunto que representava tanta alegria e felicidade naquele momento.

Assim ainda são vistas as pessoas com deficiência por alguns indivíduos de visão estreita. Suas dificuldades são evidenciadas e supervalorizadas a ponto de ofuscar o brilho de suas qualidades. Seus “defeitos” destacam-se como as lâmpadas queimadas, impedindo que seus atributos sejam reconhecidos. Sicranos, Beltranos e tantas outras criaturas de alma pequena ainda não estão preparados para compreender a plenitude da palavra “harmonia”, que não quer dizer perfeição mas equilíbrio. E equilibrar-se é aprender a conviver com as adversidades, transformando cada uma delas em degrau evolutivo, com humildade e firmeza, sem nunca esquecer que uma das maiores deficiências é não respeitar o outro como ele é.

Mabel Amorim
Enviado por Mabel Amorim em 05/10/2009
Código do texto: T1850062
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