CADA MICO NO SEU CEPO

CADA MICO NO SEU CEPO

Há aptidões na seara das militâncias que não se tiram do indivíduo. Cada qual mais lesto no seu afazer, todos defendem o seu próprio cepo como sendo o trono de onde sua capacidade de criar é única em todo o universo.

Se todos fossem professores, para quem iriam lecionar? Se o universo de trabalhadores braçais ativos, resolvesse trabalhar na construção civil; se todos, absolutamente todos, resolvessem ser comerciantes? Cada um teria o remédio caseiro para suas dores. Nenhum indivíduo cederia ao outro o trabalho em que se especializou. E, sendo assim, fugiriam ao controle as diversidades necessárias para a criatividade e o crescimento individual. A obra de criação do universo seria falha e burra na sua concepção. Deus seria um duende louco, cioso por ver o circo pegar fogo, se assim o permitisse. Por isso, cada um tem a sua ideia criativa a defender, e dela não abre mão, nem arreda o pé da sua postura, sempre solidário a quem dela necessite e compre sua capacidade.

Nós, os oficiais da arte escrita, como afinal, toda a classe artística que de alguma forma criamos as artes, temos o dom de criar e o aprimoramos há milênios (entenda-se: não recriamos a arte – aperfeiçoamos o dom), desde a infância dos nossos dias (do espírito). Poucos da nossa classe são os que vivem da sua arte e, uma mínima parte desses poucos, são os que conseguem transformá-la em fortuna. Noventa e nove por cento têm a arte por divino hobby. Embebedam a alma desse prazer ao belo e criam pela necessidade que sentem de exteriorizá-la ao mundo, cumprindo, dessa forma, sua missão de povoá-lo com mais este produto de consumo. Deliciam-se com seus valores, ou não, somente os aficionados que têm a cultura e a sensibilidade de apreciá-los e procuram nossa arte porque sentem necessidade de alimentar o espírito.

Acredito piamente que comparar-se a arte ao mel é a mais próxima das comparações, com relação aos seus admiradores. Esse néctar oriundo da natureza, onde certo tipo de abelhas o busca, atrai os insetos que sentem necessidade do alimento que dele emana. Para os seres humanos o mel traz inúmeros benefícios, desde os medicamentosos ao bom paladar. Neste último caso, o paladar exigido ao mel puro, depende muito da flor que a obreira abelha encontra em sua região para tornar este néctar mais suave ou mais acre; mel mais claro, quase transparente, e por isso, de suave paladar, ou mais escuro e, por vezes, quase amargo, por conter em sua composição os elementos e propriedades de cada flor utilizada. Assim, também, toda e qualquer arte necessita do elemento “inspiração” e uma boa dose de “transpiração”, como as abelhas utilizam os diversos tipos de flores, para torná-la suave ao paladar cultural que a procura para saciar sua fome de cultura, e ciciar a poesia como se estivesse, em êxtase, frente ao mais belo, do doce sabor literário.

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 02/10/2009
Reeditado em 16/10/2009
Código do texto: T1843399
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