DINA SFAT
 
      Um dia eu encontrei a Dina Sfat sentada a uma mesa absorvida em si mesma.
      E, com naturalidade eu a busquei.
      Numa mesa próxima à piscina do clube conhecido como “Clube Militar”, ali na Rua Jardim Botânico, onde minha filha fazia natação, por sorte de ser a minha amiga Vasti, sócia daquele clube e onde levava seus filhos para nadar. Dina levava suas filhas lá também. Mas não tínhamos a menor intimidade. Éramos só mães de nossas filhas que estudavam no mesmo colégio e na mesma turma.
      Eu me aproximei de sua mesa e me dirigi a ela, sem nenhuma cerimônia, como se fosse direito ou naturalidade. Quando olho para o passado, minhas atitudes sempre foram naturais, coerentes e não convencionais, como era também estarmos presentes nas reuniões de pais no Colégio de Aplicação, em que ela e Paulo José, falavam com facilidade sobre os assuntos referentes aos alunos, nossos filhos.
      Nesta época, ela já era uma artista famosa. Um ícone.Mas tínhamos nossas filhas, colegas de sala no colégio. Bel, sua filha freqüentava minha casa para brincar com minha filha Valéria e colega de turma do CAp. Hoje Bel Kutner é uma artista e muito parecida com a mãe. Eu a acompanho de longe, com amor e orgulho. Elas tinham quase a mesma idade dos sete ou oito anos. Uma infância feliz.
      Eu havia visto um filme do Paulo José que me marcara muito, como me marcam os livros do Chico Buarque, Saramago, Fausto Wollf e Clarice Lispector. São para a vida toda. Aliás me vem uma informação aqui nesse momento, que preciso me dizer, certos livros e pessoas marcam mais profundamente e são companheiros de caminho; é “o meu convívio social”, como foi Pinóquio e Robinson Crusoé, com quem converso e me desenvolvo. Não é bem o convívio social, mas os formadores de eu mesma e me constroem. Esses são os meus parceiros, os meus amigos e mestres e nosso diálogo é permanente.
      Isto é uma revelação. Para mim também.
      Com a Dina, foi a mesma coisa. Ela era um livro do teatro. E era mãe de uma coleguinha da minha filha, para meu orgulho. Isto bastava. Mas o filme do Paulo José me inovou tantas impressões da vida, que eu precisava falar com ele. Então escrevi uma longa carta em que tudo eu expuz, todas as minhas informações e descobertas. Foi um marco. Precisava mandar a carta para ele. Então, entregar a carta a ela para levar ao marido era melhor que o correio, não por preguiça, mas mais verdadeiro e próximo o ato da comunicação.
Sentei-me com ela e expliquei a importância daquele escrito e da minha transformação enriquecedora. Ela me ouviu, interessada com os olhos do artista que atinge o seu objetivo de Artista. Olho no olho. E ela pegou a carta e confirmou sim, que a levaria e entregaria a ele. Um dia, passando pela pracinha atrás do CAp na calçada conversando com amigos, vi o Grande Otelo todo alegre. Parei o carro, desci e cheguei até ele e lhe dei o maior abraço com um carinho infinito, apertado e com muita alegria , reverenciando-o. E ele retribuiu igual. Sem palavras ditas ,só o riso da alegria.
 
      O filme mais lindo que vi da Dina Sfat foi um com Grande Otelo, pequena estatura ele, e ela altíssima em contraste, e os dois andando á noite na calçada de uma rua solitária, no maior entrosamento os dois artistas, em conversa verdadeira, num conjunto de claro e escuro, de movimentos bem elaborados para dar aquele impacto visual e emocionante, escuto ainda um clarinete tocando ao fundo. Lindo.