Pânico de ter pânico

Pânico de ter pânico

suzabarbi@hotmail.com

A minha primeira crise de pânico foi dentro de um carro.

Podia ser pior?

Podia!

Eu era a motorista!

Descia uma avenida pra lá de movimentada, quando o chão me faltou.

Achei que o piso do carro tinha cedido.

Mas não.

Ele estava lá.

Firme e forte.

E eu me derretendo.

Com o coração quase na boca.

Batendo fora de ritmo.

Seria um infarto?

Encostei o carro.

Por pura intuição, tentei controlar a minha respiração.

Sorte a minha.

Consegui melhorar aquela sensação horrível.

Mas não consegui dar partida no carro.

Não porque ele estivesse com algum problema.

O problema era eu.

Estava com medo.

Medo não.

Pa-vor.

O carro ficou na avenida movimentada.

Eu tratei de pegar o primeiro táxi que passou.

Para descer na primeira esquina.

A sensação voltou tão logo o carro se pôs em movimento.

E dessa vez não conseguia respirar.

O motorista tentou ajudar.

Eu o afastei com as mãos e abri a porta.

Com as pernas bambas, caminhei pela avenida movimentada.

Tentei entender o que estava acontecendo.

Consegui oito anos depois.

Ou, pelo menos, acho que consegui.

Veremos.

Depois desse dia, tentei de tudo.

Cardiologista, pneumologista, endocrinologista...

Quando a minha lista de “istas” estava quase chegando ao fim, junto com a minha paciência, encontrei uma alma iluminada que falou:

- Você teve uma baita crise de pânico!

E eu lá sabia o quê era isso?

- Tem que procurar um terapeuta. Isso é crise de ansiedade.

Fui pra casa, a pé, claro, e voei para a internet.

Estava tudo lá.

Como se eu estivesse lendo minha vida nos últimos dias.

Com direito a suar frio ao ir devorando o que o Google me mostrava.

Carro vendido, procurei um terapeuta.

A pé.

De preferência, que fosse perto de casa ou do serviço.

Enquanto isso, viajar nem pensar.

Perdi bons passeios.

Até que um dia dei de cara com um convite que não poderia recusar: a posse de um queridíssimo cunhado.

Cargo no alto escalão do governo federal.

Ônibus nem pensar.

Carro já não tinha mais.

Não restou alternativa: na falta de trem, iria de avião.

Uma semana de terapia intensiva, florais, remedinhos homeopatas, sessão de relaxamento, ioga, meditação, exercícios de respiração, muita concentração.

Desmaiei tão logo o avião levantou vôo.

Dei um trabalho que até hoje agradeço a equipe de vôo (e morro de vergonha também).

E pra voltar?

Vim sedada, para não dizer dopada.

Só assim consegui voar novamente.

Quando cheguei, fui recebida por uma amiga.

Nas mãos, um embrulho.

Era um presente, que deveria colocar em casa.

Em lugar bem visível.

Na porta do armário seria o máximo!

Uma plaquinha de metal com os dizeres gravados:

PÂNICO É PARA AMADOR!

Tempos se passaram.

E tratamentos também.

Medo é a única coisa que realmente cerceia a liberdade.

Queria voltar a ser livre.

E como boa lutadora, comprei um carro.

Amanhã, faço com ele a minha primeira viagem.

Com ou sem pânico seremos eu e ele na estrada.

Pânico definitivamente é para amador!