A CAÇA AO RATO

CAÇA AO RATO

Todos sabem que onde mais se cultiva a escala hierárquica é nos quartéis. No exército, na marinha, na aeronáutica ou nas polícias federal e estadual, esse negócio de hierarquia é levado muito a sério. E nem poderia ser diferente. Num grupamento onde todos mandam ninguém obedece. E quando isso acontece a anarquia e o motim são pratos do dia, e quando se dá em corporações donde deve irradiar a disciplina e o cumprimento da lei para a população civil, isso é lamentável.

Acontece que, num determinado quartel, o comandante veio a saber que vazou para a imprensa uma informação de restrição interna. Não se tratava de assunto muito sério, mas a disciplina havia de ser mantida. Por isso a autoridade máxima daquele batalhão mandou chamar o Major que, com todo o respeito e em posição adequada ao momento, ouviu com atenção a reprimenda a ele dirigida. Fez continência para o Coronel e, com um sonoro “sim senhorrr”, retirou-se com a farda ensopada de urina. Ato contínuo, dirigiu-se ao gabinete do Capitão e, com autoridade serena, passou-lhe tremenda descompostura a respeito do fato. Finda a “mijada”, este ordenou que lhe viesse à sua presença o Primeiro Tenente que, por sua vez, teve que ouvir em dose dupla a indignação do seu Capitão. Ao sair da sala o Primeiro Tenente encontrou no corredor o Segundo Tenente e, ali mesmo, passou adiante com todos os “iiss” o recado ouvido do seu superior. O Subtenente ouviu calado e em “posição de sentido” o que seu superior lhe vociferava com a mesma indignação e autoridade que lhe conferia o posto, O Aspirante a Oficial teve que ouvir, por sua vez, a descompostura daquele e, em seguida, achando o Primeiro Sargento no pátio externo, fê-lo ouvir “cobras e lagartos”; que passou esses animaisinhos peçonhentos para o Segundo Sargento; que os deixou à guarda do Terceiro Sargento; que recriminou o Cabo; que despejou toda sua raiva sobre o soldado raso.

O Soldado ficou com um nó na garganta de raiva. Sempre ele era o culpado de tudo porque não tinha a quem incriminar. E, de fato, olhou ao seu redor e não viu ninguém para passar seu estado de espírito adiante. Quando, cumpridas as suas horas de trabalho, o Soldado foi descansar, seu cachorro de estimação o aguardava “sorridente” e festivo à sombra de uma árvore frente à casa. Acercou-se o Soldado dele e desferiu-lhe tremendo pontapé nas costelas. O inocente animal saiu correndo e ganindo de dor. Um gato das redondezas viu o inimigo nato e correu frente a ele e, este, para não perder a ocasião, perseguiu o felino por mais de uma quadra. Mas o gato, que de bobo nada tem, meteu-se debaixo de uma casa, safando-se da perseguição.

Bem, a mim me parece que chegamos ao fim da linha, porém... há sempre um “porém” nas histórias e bem por isso elas têm mais um episódio.

Um camundongo que acordara faminto, procurava no escurinho do porão algo que lhe matasse a fome e encontrou-se frente a frente com seu mais temido predador... que fez dele seu almoço.

Moral da história: o ser humano procura sempre atribuir a terceiros as culpas que, porventura, lhe caibam e, pelo visto, os bichos copiam-lhe o mau exemplo.

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 06/09/2009
Código do texto: T1794995
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