TO BE OR NOT TO BE

Tupi ou não Tupi. Nesta terra ensolarada, onde homens e mulheres deveriam andar nus, ando de terno e gravata, imitando Macunaíma, Ai que Preguiça! Tudo para ganhar o pão diário e distribui-los para meus filhos, que ainda não sabem caçar nem procurar sua própria comida, coisas da natureza selvagem. Estou de fora dos programas assistencias do governo, então tenho que correr atrás. Correr é bom porque exercita. É o que estou fazendo: exercitando esta literatura doida de varrer. Ou sou eu que sou doido de varrer? É sempre assim, começo a escrever sobre o nada para ver se o nada se transforma em algo, ou se tudo vale a pena, certas reflexões sobre esta minha vida primária, primata, século vinte e um, eu já pra lá da curva que mede nossa passagem por esta terra, será que eu existo mesmo? PQP, tem horas que nem eu me aguento, tanta fala escrita sem sentido que o significado das coisas parece tão óbvio, mas não consigo senti-lo, enxergá-lo, galo, galinha, pavão misterioso, peru no natal, tantas aves, bichos do nosso quintal, seres sem sentido, que estão aqui igual a nós, apenas para serem comidos, alimento, movimento antropofágico, tribos canibalistas, tribalistas, movimentos desconcertantes do corpo, dança frenética, ritual pagão, alucinógeno, um basta nesta globalização que esquece estes personagens tão fantásticos da nossa literatura, tantos fenômenos paranormais esquecidos, tantas vezes dormi com medo da mula sem cabeça, pulando como saci, e assim vai minha noite e o dia já está chegando e este exercício cansa mais quem lê do que eu, mero literato sem graça, que escapa da rotina contanto estórias sem começo nem fim, misturando meus filhos com os bichos emplumados, e assim por diante, Macunaíma com ficção científica, tudo para dizer que não estou nem aí, nem aqui, nem em lugar nenhum, tudo não passa de uma ilusão, Maia, como dizem os hindus, tudo não passa de um queijo suiço, furado, que se perde se não for logo degustado. Sou canibal sim, sou porque sou, e não fujo deste estigma louco de ser o que não sou. Estou indo embora, antes que chegue a cavalaria, antes que o sol me despeça, antes que o chefe me ligue, antes que eu perca o ônibus, antes, antes e antes, depois vocês é que sabem.

florencio mendonça
Enviado por florencio mendonça em 04/09/2009
Reeditado em 27/05/2015
Código do texto: T1791973
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