Os Amores da Rede

Esses dias lendo, uma página da Internet, deparei-me com uma pergunta que dizia assim: encontrou seu amor numa sala de bate-papo? Conte sua história. Curiosa pela leitura entrei e comecei a ler os depoimentos que lá existiam.

Adrianas, Carlos, Drikinha, Luis, Gerson, Caetano, entre tantos outros nomes dos mais variados possíveis e sem saber que eram realmente seus nomes, mas suas histórias pareciam realmente ter existido.

Algumas dessas histórias, bem parecidas com as histórias de muita gente, das quais escutamos o relato do acontecer do amor. Final feliz, infeliz, de tudo acontecia lá também.

Entretanto, teve algo que me chamou a atenção. Na maioria dos depoimentos havia fotos dos declarantes e relatavam, sem vergonha, o que demais Belo havia em suas historias. E tudo isso me levou pela memória de muito tempo atrás.

Lembro-me do amor e, não sei se posso classificá-lo por platônico, que existia, no qual amávamos e o outro nem sabia, e quando víamo-lo, nosso amor de perto, saíamos correndo e, muitas vezes, a recíproca era verdadeira, por isso a classificação pode estar errada.

A correspondência era muito discreta, mas nosso sentir não, ele dançava em nós, fazia pensar na pessoa amada o dia todo e tinha uma vantagem, mesmo sem ele saber, se quiséssemos poderíamos, disfarçadamente, atravessar a rua, andar bairros inteiros, dois ou três, e passar na frente da casa dele, só para vê-lo por um minuto e sair correndo para casa, levando conosco aquela visão que era tudo que precisávamos para nos manter por mais um dia, uma semana, um ano, dois.

Bonita as diversas formas de amor que o tempo nos apresenta. Amores platônicos, amores de rede, amores de telefone, amores de presentes, passados e futuros.

Seu eu olhasse há 20 anos atrás, diria que esse amor de rede seria um amor futurista, um amor pra muito tempo depois, vinte anos talvez. Mas, hoje, ele bate na nossa porta e nem precisamos mais atravessar a rua pra ver nosso amor passar, hoje ele passa na nossa tela, dentro da nossa casa.

Não sei o que dizer para aquela minha amiga, que nunca sai de casa e que sempre me dizia que o amor, pra ela, somente se fosse o carteiro, leiteiro, medidor de água, de luz, porque só assim para conhecer alguém e ser feliz. O amor bate a sua porta, diria outro colega meu, o amor está ai na tua tela. Poderia usar essa resposta para minha amiga.

Entretanto, quero dar outra, respondendo para ela e para muitos que são como ela. Quero me projetar para daqui vinte anos e cantar o amor como será. Posso errar, devo estar errada, mas quando eu tiver meus sessenta anos, quero ler o que escrevi.

O amor será assim, não teremos mais tela grande em casa, não apareceremos mais na web cam e nem usaremos mais microfone, tão pouco escreveremos. O amor nos virá de uma forma muito maluca, muito futurista, porque não precisarei mais tocar, só sentir e até me pergunto se esse não é o amor verdadeiro. Entretanto, daí tu podes estar pensando, já é assim. E direi que, ainda, não. Ainda estamos nas amarras dos aparelhos, que hoje substituem nossas pernas, nossos braços e nossos abraços.

Existirá um tempo que, para amar, nem precisarei do outro, somente de mim.

A rede que nos leva ao mundo todo, a diversos amores e nos globaliza, é a mesma que nos torna individuais cada vez mais, à medida que o tempo vai passando.

Que saudade, de atravessar a rua, de ficar olhando, imaginando, quem sabe esbarrar, sem querer é claro, só pra ele me notar.

Que saudades de pegar o mesmo ônibus e sentar um banco atrás, sim, porque assim posso cuidá-lo sem que ele me veja.

Que saudade de perguntar que horas são, só para ouvir o som que ele emite e poder olhar dentro dos olhos dele

Que saudades de ficar esperando que ele me tire para dançar e poder assim encostar meu corpo no dele.

Sempre tive um medo, aliás, o único da minha vida, de que à medida que vou ficando mais velha, mais saudades tenho do passado.

Que todos os amores de rede aconteçam de verdade e que ao invés de ser de rede, que sejam na rede.

Quem sabe uma pane elétrica não resolveria tudo, quem sabe o satélite que comanda as ligações não caia, quem sabe assim, as pessoas se toquem e amem, deixando o amor acontecer.

Mas tudo isso, nada mais é do que uma forma de analisar e ver o amor.

São amores diferentes, válidos, entendidos, vividos, e é isso que conta.

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Gislaine Becker
Enviado por Gislaine Becker em 27/08/2009
Código do texto: T1776990
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