MOMENTOS DE TERNURA
Poderia dar a essa crônica um outro nome, mas com tantos nomes novos em mente eu escolheria o de Guaraci. Pois se nomes são como pétalas de novas flores este combinaria com o quadro da sala de estar onde lindas pessoas conheci. Essa crônica fica com o título reservado para o brilho dos olhos das pessoas personagens da noite.
A noite que parecia não perder as luzes enquanto as taças se movimentavam. Uns e outros perambulavam em busca de alguma novidade ou segredo. Mas a comida estava tão boa que parecia substituir beijos enquanto as taças sentiam o calor das mãos daquela noite fria. De longe um José fitava uma Maria. De perto um João fazia cara de quem lia uma poesia. E eu? Eu sorria por trás dos brilhos dos olhos de todas aquelas pessoas lindas.
Nunca saberia o que esconderia cada par de olhos. Nunca saberia se algum teria chorado mais cedo. Muitas pessoas estavam enfeitadas de imensos desejos, outras pareciam aptas a contemplar a luz sem esfregar os olhos. Enquanto eu me deixava incentivar por uma dose de álcool soltei uma ou duas palavras bestas só para ver se meus olhos também eram visto. Descobri que eram.
Todos os cãezinhos das fotografias estavam em silêncio mesmo sabendo que a noite era deles. Pessoas como eu cometiam a gafe de fazer um ou outro barulho fora de hora, tipo esbarrar em algo que ao chão cairia estrondosamente durante uma prece. Ainda bem que não era prece! Ainda bem que eu me portei como quem não soubesse o que tinha acontecido. Se alguém ousar dizer que qualquer ignorância serve para justificar a timidez eu preciso descobrir qual é a minha maior ou menor sozinha. Depois do segundo copo a fala sentiu-se bem mesmo que tropeçando nas próprias palavras.
Mas ainda assim não podia falar dos momentos de ternura dos olhos de Guaraci ou de Ana Paula. Essa Ana disfarçava os olhos com o sorriso mais lindo do mundo. E a Guaraci tentava disfarçar com um meio melancólico que faria com que qualquer cavalheiro lhe convidasse para uma dança. De longe fiquei pensando se José a convidaria. A noite passou e ele não convidou. Mas eu o perdoei pela falta de música. Cabisbaixo recolheu-se por trás do quadro dos índios.
Guaraci falou do filho depois que José desapareceu. E sua fala continuava pura como se fosse uma Iracema. Vera era a que mais possuía segurança na fala. Perdoou-me até por um tomatinho que escorregou do pires de salada. João aproximou-se e pensei que inventaria uma música para cantar com a Val. Val disse que cantar era coisa da Simone. Essa com imensa simpatia não recusaria um canto. Ficamos todos esperando, mas ela não cantou.
Aguaraciando pessoas trocavam de drinks e de comes (ou de comes e bebes). Pudera eu escrever ao invés de inventar outras doses de palavras que teimavam em não ver o fundo dos olhos de ninguém para que ninguém fitasse os meus mais tímidos ou em estado de falso desamparo. O certo de toda a noite é que os meus olhos estavam felizes e o certo era agradecer a dona da casa, mas eu nem sei se ela sentiu que eu agradeci.
www.recantodasletras.com.br/cronicas/1775329
Poderia dar a essa crônica um outro nome, mas com tantos nomes novos em mente eu escolheria o de Guaraci. Pois se nomes são como pétalas de novas flores este combinaria com o quadro da sala de estar onde lindas pessoas conheci. Essa crônica fica com o título reservado para o brilho dos olhos das pessoas personagens da noite.
A noite que parecia não perder as luzes enquanto as taças se movimentavam. Uns e outros perambulavam em busca de alguma novidade ou segredo. Mas a comida estava tão boa que parecia substituir beijos enquanto as taças sentiam o calor das mãos daquela noite fria. De longe um José fitava uma Maria. De perto um João fazia cara de quem lia uma poesia. E eu? Eu sorria por trás dos brilhos dos olhos de todas aquelas pessoas lindas.
Nunca saberia o que esconderia cada par de olhos. Nunca saberia se algum teria chorado mais cedo. Muitas pessoas estavam enfeitadas de imensos desejos, outras pareciam aptas a contemplar a luz sem esfregar os olhos. Enquanto eu me deixava incentivar por uma dose de álcool soltei uma ou duas palavras bestas só para ver se meus olhos também eram visto. Descobri que eram.
Todos os cãezinhos das fotografias estavam em silêncio mesmo sabendo que a noite era deles. Pessoas como eu cometiam a gafe de fazer um ou outro barulho fora de hora, tipo esbarrar em algo que ao chão cairia estrondosamente durante uma prece. Ainda bem que não era prece! Ainda bem que eu me portei como quem não soubesse o que tinha acontecido. Se alguém ousar dizer que qualquer ignorância serve para justificar a timidez eu preciso descobrir qual é a minha maior ou menor sozinha. Depois do segundo copo a fala sentiu-se bem mesmo que tropeçando nas próprias palavras.
Mas ainda assim não podia falar dos momentos de ternura dos olhos de Guaraci ou de Ana Paula. Essa Ana disfarçava os olhos com o sorriso mais lindo do mundo. E a Guaraci tentava disfarçar com um meio melancólico que faria com que qualquer cavalheiro lhe convidasse para uma dança. De longe fiquei pensando se José a convidaria. A noite passou e ele não convidou. Mas eu o perdoei pela falta de música. Cabisbaixo recolheu-se por trás do quadro dos índios.
Guaraci falou do filho depois que José desapareceu. E sua fala continuava pura como se fosse uma Iracema. Vera era a que mais possuía segurança na fala. Perdoou-me até por um tomatinho que escorregou do pires de salada. João aproximou-se e pensei que inventaria uma música para cantar com a Val. Val disse que cantar era coisa da Simone. Essa com imensa simpatia não recusaria um canto. Ficamos todos esperando, mas ela não cantou.
Aguaraciando pessoas trocavam de drinks e de comes (ou de comes e bebes). Pudera eu escrever ao invés de inventar outras doses de palavras que teimavam em não ver o fundo dos olhos de ninguém para que ninguém fitasse os meus mais tímidos ou em estado de falso desamparo. O certo de toda a noite é que os meus olhos estavam felizes e o certo era agradecer a dona da casa, mas eu nem sei se ela sentiu que eu agradeci.
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