Deus É Mulher


O casalzinho comemorava o primeiro aniversário de namoro num restaurante romântico da cidade. Enquanto aguardavam atendimento, ele, distraidamente, olhou para o teto acima dela. Seus olhos se arregalaram e as unhas cravaram a madeira da mesa. Ela viu logo a razão do pânico: uma enorme teia de aranha, pendurada entre as tábuas do telhado. Aracnofóbico assumido, trauma de infância, ele já se preparava para correr dali. Ela argumentou:
- Calma, meu amor. Não vamos estragar uma noite perfeita por uma bobagem dessas. Vamos pedir para alguém tirar isso daqui, tá bom?
Ele assentiu, num suave menear de cabeça, respirando com dificuldade.
- Isso, calma, calma! - dizia ela, acenando aflita para um dos empregados do local.
Ele desviou o olhar e tentou disfarçar a paúra, enquanto ela explicava ao garçom:
- Sabe o que que é, moço? É que eu tenho horror de aranhas e essa teia tá me dando uma agonia... dá pro senhor tirar?
O rapaz, num gesto rápido passou um pano e recolheu toda a teia, enquanto ela se fingia enojada.
Depois que ele se afastou, o namorado respirou aliviado e agradeceu, brincando:
- Melhor parecer fresca do que namorar um, né?
- Bobo! Não é frescura... Você passou por um trauma e tal... Agora, vamos esquecer isso e vamos comemorar.
E assim, seguiu a noite... Jantaram, brindaram, conversaram, namoraram... Já perto de pedirem a conta foi a vez de ela arregalar os olhos, chocada: uma barata passou caminhando pela parede, ao lado deles.
Aí já era demais. Deu um pulo da cadeira e foram acertar a conta no balcão. Decisão anotada: nunca mais voltar ali.

Insetos devem ter lá sua utilidade no ecosistema, mas nossa convivência com a maioria deles nunca foi pacífica ou saudável. Baratas, por exemplo. Toda mulher que se preza e até alguns homens “de responsa” arrepiam diante delas. Encontrar uma delas sobre um bolo de aniversário é motivo para jogar tudo fora no meio da festa, com velinhas e tudo, de preferência num incinerador.
Mas elas não são as piores. Acredite. Imagina a cena: você acorda de madrugada, meio grogue e com sede. Chega na cozinha, e surpreende uma barata dessas bem nojentas e asquerosas subindo na lateral do armário. Você tira suas pantufas e a derruba, pisando bem de levinho nela para não melecar tudo com aquela gosma característica. Com preguiça, certo de que ela está morta, deixa tudo lá no chão. As pantufas inclusive, que você só voltará a usar depois de sabê-las lavadas com álcool 92º. Adivinha quais são os insetinhos inocentes, pequenininhos e tal que irão sapatear sobre ela, recolhendo pedaço a pedaço, com as mesmíssimas minúsculas patinhas que depois andarão sobre a comida? Pois é: acertou! Formigas! Esses bichinhos laboriosos, que eu tinha como seres razoavelmente inofensivos há algum tempo. Eca!
E os mosquitos? Eles me amam. Já quase me aleijaram uma vez, num acampamento em que se concentraram no peito do meu pé, a única parte do corpo desprotegida. Fiquei uns três dias com os pés na água morna, inchados, sem conseguir pisar.
Outra noite dessas, uma amiga se queixava deles. Sugeri o uso dos repelentes. Aqueles, de parede, são ótimos. Ela disse que não gosta, acha que fazem mal. Perguntei: e os mosquitos? Fazem bem? Caetano Veloso já cantava em Eclipse Oculto “Como se o coração tivesse antes que optar entre o inseto e o inseticida...”. Essa dúvida tira mais o sono do que o filosófico dilema Macbethiano “Ser ou não ser? Eis a questão”. Eu não tenho dúvidas: inseticidas, repelentes, aqueles espirais xexelentos que ficam queimando a noite toda e sempre quebram na hora de colocar no suporte, velas de citronela. Qualquer coisa é melhor do que as ferroadas, picadas, antenas e perninhas serrilhadas.
Insetos... Taí. É a prova definitiva. Deus é mulher e estava na TPM quando criou essas pragas.

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Não me xinguem. Tô só brincando. Já bati na boca três vezes e já rezei dez Padres Nossos e dez Aves Marias por causa da blasfêmia.

Image daqui.