OCACIR MARTINS
 
 
         Ocacir é um nome indígena,significa “o homem da casa”,
OCA = casa
CIR = homem
Hoje, 16 de agosto é a data de aniversário do meu pai, nascido em 1900 e morreu em 1972. Faria pois 109 anos se estivesse vivo. Mas em meu coração está sempre vivo.
         Um dia, defronte da Catedral de Petrópolis, sentamos juntos no meio fio ladeando o Rio Piabanha e proseamos. Dia claro, o sol batia sobre nós, mas era um sol suave. Estávamos felizes. Nossa casa ali perto, hoje é a Cultura Inglesa, nem me lembro qual de nós dois escolheu aquele lugar. Provavelmente era um fim de semana e eu subira do Rio para Petrópolis, como fazia quase todo sábado e domingo. Acho que a primeira pessoa que eu procurava era o “Pai”, como o chamava, o nome mais bonito. Ou ele era o primeiro a me receber, porque era aposentado e não tinha muito que fazer. E todos os outros eram ocupadíssimos.
Foi tão natural estarmos ali no meio fio , sentados, conversando sob o sol e apreciando a fachada da Catedral, na verdade estávamos em plena harmonia vivendo a vida. Ele estirou o braço à frente e arregaçou as mangas da camisa mostrando seu braço sadio, musculoso e forte e filosofou _ Olha minha filha nem parece que tenho 72 anos, parece 40 ou 50 anos... E eu apertei seu antebraço sentindo os ossos e a carne vivos, rijos, falando também _ é Pai, o senhor está tão moço! E compreendemos ali, que quando chega a idade, a gente se espanta de parecer muito mais jovem. É um susto, um espanto, uma compreensão tardia da vida. Sempre depois.
Estou aqui a relembrar nós dois, ali no meio fio sentados e vivendo.
Meu pai...
Seu pai se chamava Ricardo de Oliveira Martins, meu avô. Que por sua vez era um “Coronel” de São João Nepomuceno, uma figura importante lá. E sua mãe Neociolina, Vó Neneca. Tiveram dezesseis ou quatorze filhos, todos com nome de índio: Leacir, Ubiracir, Neacir, Neacira, Leacira, Iandira, Oneíra, e outros lindos nomes de lindos tios.
Uma família harmoniosa e afetuosa. Meu pai foi o primeiro filho e era lindo e bom, durante toda a vida. Aos 24 anos estudava Farmácia aqui no Rio. INTERESSANTE... Penso-o curtindo um Rio antigo, em belo estilo. Cursava o terceiro ano da faculdade de Farmácia. Faltava só um ano para se formar, ia ser farmacêutico! Ele sempre quis que eu estudasse farmácia e não engenharia. Mas eu não gostava de Química, o meu forte era Matemática, eu pensava.
Meu pai... Ia a São João e lá se apaixonou por uma menina de dezessete anos Maria José de Aguiar. Chamou-a de Zezé. Amou-a toda a vida. Não resistiu ao amor e largou a Faculdade de Farmácia e se estabeleceu em São João Nepomuceno para casar e viver com ela.
Vovô Ricardo nomeou-o Diretor do Grupo Escolar, coisa de antigamente.  POUCO DEPOIS QUE EU NASCI ELE FOI PARA Visconde de Rio Branco, tanto que me sinto de Rio Branco. E ficou a vida toda como Diretor do Grupo Escolar Carlos Soares, muito querido das professoras
Meu pai dá um livro.
Hoje seria seu aniversário.
Pai querido, querido Pai, nunca te chamei assim, nem ousava...
Mas hoje, continua no meu coração com todo o amor.
EU POSSO TE DIZER QUE O AMAVA