A data importante

Iria fazer um ano que os dois não se viam. Ele tinha saído da cidade para estudar fora. Ela continuou esperando. Como um casal apaixonadamente apaixonados. Haja paciência.

Naquela semana tão importante, ele escreveu uma carta, coisa que nunca fez, mas a data pedia a ocasião. Reuniu as mais singelas palavras, os mais doces versos, os termos mais picantes. Juntou tudo numas vinte ou vinte e três linhas, colocou num envelope e endereçou à casa da amada. "Três dias, exatamente na data. Ela ficará muito feliz".

Três dias depois, uma carta chega à casa. O marido que a recebe. Acha estranho, porque no nome estava endereçado para outra pessoa. Ao lado, um ''com carinho''. Desconfiado, abre a carta que não era para ele.

"Amor! Quanta saudade de você. Hoje está fazendo um ano em que estamos juntos, e minha saudade é tamanha que não consigo acreditar que ainda estou vivo, pois sem você minha vida não tem sentido. Foi o melhor ano que já passei, embora esteja longe, e eu estudando. Consegui um emprego, já sabe, pois sempre ligo para ouvir a sua voz. Não imagina o quanto me conforta ao ouvi-la. Esperaremos mais alguns meses, e logo eu estarei aí para deitar-me nos teus braços, sentir tuas mãos, a tua pele. Acariciar os teu lindos cabelos, poder almoçar juntos, acordar e saber que naquele dia a verei. Tenho fortes supresas que estão te aguardando. Espere, logo estarei de volta e talvez essa aliança que está usando mude de mão. Com muito carinho, quero voltar e olhar nos teus olhos e dizer: eu te amo!"

Parecia uma denúncia de que sua mulher o estava traindo, fazia um ano. Por um ano ele estava sendo enganado, sendo passado para trás, e com um garotinho que ainda está na faculdade. Não quis mais saber da esposa, terminou tudo. Largou os filhos, mudou de cidade. Se divorciou e agora está morando no Amapá.

A mulher nunca entendeu nada. Era uma santa. De uma hora para outra seu marido a havia largado. Um casamento de quase quinze anos jogados fora, e ela nem sabia o motivo. Ficou infeliz no amor, nunca mais quis se relacionar com alguém. Largou a vida santa e entrou nas bebidas.

Os filhos aprenderam a conviver sozinhos, sem a presença de um pai ou uma mãe descente.

Duas semanas havia se passado e nada da resposta da carta, e muito menos de uma ligação. Ele já estava impaciente. "Por que ela não ligara? Por que não o procurou?" Só uma coisa passava pela cabeça dele; ela o havia largado, encontrou outra pessoa. Só podia. A certeza de que aquilo aconteceu era forte. Seus estudos foram piorando, as notas baixando. O rendimento no serviço acabou, a produção era mínima. Começou a frequentar bares, para esquecer da mulher que o havia largado sem motivo algum. Encontrou prostitutas, teve um filho com uma delas, depois deve ter feito mais uns espalhados pelas cidades em que vagou, sem rumo, sem futuro.

Ela, a namorada, ainda espera até hoje a carta dele. Nunca desacreditou, mas ainda se pergunta o porquê que ele não lembrou do dia mais importante para os dois.

Eduardo Costta
Enviado por Eduardo Costta em 13/08/2009
Reeditado em 13/08/2009
Código do texto: T1752122
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