A empáfia do verbo vangloriar

A EMPÁFIA DO VERBO VANGLORIAR

Na década de 60, o erudito mestre Vilaboin - doutor em ciências exatas - tentou incutir no bestunto de seus atentos alunos de ciências sociais a acepção de que “prenhe” seria uma variação de “carência”, configurando assim um disparate incomensurável, que atordoou os incautos alunos que se aboletavam nos degraus da arena circense que identificava as faculdades de antanho. E ali, nós, os carentes do saber, ouvidos e olhos atentos, sorvíamos as sábias palavras do impávido mestre de algibeira que vomitava ensinamentos. Ah! certos cursos universitários...

A dúvida -- que naquele tempo era inadmissível contestar os que ocupavam a cátedra -- só foi contraditada quando a irreverência, fustigada pelo cuba-libre, permitiu

o desrespeitoso aparte, que custou ao autor uma indelével mácula em seu currículo:

“ Prenhe não será carência

Até que uma lei contenha

E exemplifique o porquê

Prenhe oco é incoerência

Pois a mulher que está prenha

Ta carecendo de que?”

A vanglória já fora cantada pelo poeta popular, quando afirmou que

“a vaidade dessa gente é uma arte

Tanto fizeram que houve a separação.

Mulher a gente encontra em toda parte

Só não se encontra a mulher

Que a gente tem no coração.”

Mas, o verbo vangloriar não escapa de conotação embutida em seu seio. Na mais das vezes, oculta o auto- elogio, num ufanismo incontrolável.

Com o passar do tempo, parece justo isentar o descuidado mestre da década de 60. Foi uma escorre- gadela que não causou maiores problemas, além daquele que afinetou o currículo do vate insensato . Em momento algum, o mestre usou o verbo vangloriar. Limitou-se à insípida matemática que cuida de números e não de palavras.

Foi pequena a falha do saudoso mestre. Felizmente, limitou-se o artista às sandálias..

*

Ano 2000... que saudades do “prenhe oco”. A lacuna agora foi preenchida e nem os revisores dos jornais - uma das mais nobres das atividades - se interessam em corrigir falhas que deseducam. Mas, a petulância vem de cima e há os que se vangloriam pela mediocridade e pela insensatez de declarações que atingem uma nação inteira. A mediocridade deu os braços ao ufanismo, numa empáfia que faria corar a Nero e a Adonis.

E aí ? Na atual conjuntura não se pode mais culpar os Cursos Universitários!

Rio de Janeiro, 15 de março de 2007.