O Pássaro

http://ilove.terra.com.br/autores/texto.asp?idpi=1895

Um pássaro azulado estava preso em sua gaiola. A única comunicação com o mundo era um pombo correio-correio, que todos os dias, sem falta; passava por lá e lhe trazia notícias. Através dessa ida e vinda de correspondências uma linda pássara encantada conheceu o pássaro azulado. Ela conhecia apenas a sua letra. Adorava a letra do pássaro. Começou a lhe entregar, diariamente, muitas cartas. Nas cartas nunca deixava de elogiar as idéias do pássaro, preso na sua gaiola particular. De outro lado o pássaro não entendia bem aquele volume de cartas que entortavam o bico do amigo pombo-correio. Pudera, a passarinha escrevia coisas lindas! O pássaro foi gostando dessa idéia e se sentiu cativo de tantas cartas perfumadas. Certa vez, como prometera, a pássara encantada apareceu por lá. Apaixonaram-se. Foram felizes! Bem, a pássara era nômade e tinha a sua natureza. Contra a natureza não se deve lutar, não é? O pássaro azul também tinha a sua natureza, porém, era preso. A pássara encantada foi-se. Tinha lá outras visitas. Nunca mais deu trabalho ao pombo-correio, que todo dia chegava com o seu bico praticamente vazio. Só restava ao pássaro escrever mais cartas a esmo. Sentia a falta da pássara. Chorava, chorava, chorava!...
Hoje voa livremente no Além-túmulo!


Ribeirão Preto, 09 de janeiro de 2004
00h02 min.


ÚLTIMO SONETO
http://ilove.terra.com.br/autores/TEXTO.ASP?idpi=140

Exigi o teu amor qual insano Rei;
Anelei o mundo celeste, calado;
E em delírios pensei estar ao teu lado,
Sentir teu cheiro, tua pele... não sei!

Mas o teu motejo tudo apaga,
Teu perfume e desvelo... não os verei.
Hoje feliz nas tuas noites... bem sei!
Meus sonhos p’ra ti não valem nada.

Tento a saída com os olhos túmidos;
Foi-se o Eldorado... os risos úmidos,
Afundo, entre lágrimas na procela.

Estou só. Ilusão querida. Oh lírios!
A solidão: Um rio de martírios;
... as águas levaram a noite bela!...

Ribeirão Preto, 17 de fevereiro de 2002.
14h15 min.


FIM DA LINHA,
http://ilove.terra.com.br/autores/TEXTO.ASP?idpi=1085


Ela, uma louca locomotiva;
As rodas cortavam o aço inocente,
E eu? – Mera alma parca e esquecida,
gravava as letras mortas da existência!...

Ela vai e vem, e deixa suas feridas...
O tempo ignora o tempo da carência...
Abrem portas e fecham portas sem saídas,
as rugas medem a rude vivência!...

A grilheta se romperá ao luar?
As águas correm... o mesmo tédio!...
A voz nunca muda... É o mesmo cantar!...

A visão se perde contra o Rei Sol
... muitas receitas, poucos são os remédios...
Termina e nasce outra vida maior!...

Ribeirão Preto, 30 de junho de 2004.
18h00 min.