O Pico de Quintino

http://ilove.terra.com.br/autores/TEXTO.ASP?idpi=142

A escalada da montanha foi dura. Durante a minha trajetória enfrentei todos os tipos de dificuldades. Não é fácil pedalar escalando contra a gravidade e contra o vento. Mas para tentar ver pelo menos o seu rosto todo esforço não é vão.

Fervilhavam todos os músculos das minhas pernas. Sentia aquele ardume muscular a cada pedalada vencida. Com todas essas dificuldades não deixava transparecer que a minha idade pudesse interferir naquela longa subida. Não sentia nenhuma saudade das minhas forças dos tempos juvenis.

Aos poucos percorria aquela avenida a pedaladas lentas, sentia o suor gelado a escorrer por todo o meu corpo. Sorri feliz. Disseram-me que transpiração faz bem para a pele. Remoça. Quem sabe?

Ao longe avistei, de um lado um bar ou uma padaria, não me lembro bem. Do outro lado pude visualizar numa locadora o filme “Minha Amada Imortal”, que conta um romance de Ludwig Van Beethoven (meu favorito).

Na placa da rua conferi. Realmente o nome da sua rua. Na Esquina uma árvore. Fiquei por alguns minutos contemplando aquela árvore. Quantos segredos aquela árvore abriga? Quantos casais enamorados, sonhadores, não se acariciaram naquele local? Quantos pássaros prosseguiram sua espécie ao abrigo daquela árvore?!

Num movimento brusco, armei-me de um canivete, e, gravei no caule da amiga árvore o seu nome, na esperança de que, algum dia, quem sabe você possa lembrar que passei por ali, pela marca registrada.

Imediatamente, fascinado por todo aquele sonho, armei-me de lápis e papel e escrevi os sonetos, aos quais leio-os aos cantos, constantemente.

Nos sonetos vislumbro o meu anjo. Pelo menos o anjo confeccionado nos meus sonhos.

Nos sonetos mergulho na rotina da rua por onde você passa. Sinto o seu cheiro. Reabasteço-me de energia daquele alto. Rico em oxigênio. O oxigênio do seu habitat. O oxigênio dos seus lábios. O oxigênio do seu fluxo sanguíneo, etc.

Mas sonho é sonho. Não é proibido sonhar. Precisamos dos sonhos para voltar à dura realidade.

Acho que os artistas sofrem. Sofrem porque sonham. Tentam transformar os devaneios em realidade. Mas esta realidade não se concretiza e o artista se deprime. Vê o tempo corroer sua obra aos poucos. Perde a amada que talvez nunca tenha existido!

“Caramba”! Não escrevo mais nada! “Pô”!


Carlos.


Ribeirão Preto, 25 de novembro de 2001.
14h00 min.
Machado de Carlos
Enviado por Machado de Carlos em 24/07/2009
Código do texto: T1717481
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.